TDAH em relacionamentos: compreendendo o impacto no romance

TDAH em relacionamentos

Quando abordamos relacionamentos românticos, diversos elementos podem moldar a dinâmica do casal e influenciar positiva ou negativamente no futuro a dois. O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é um desses fatores.

O TDAH é uma condição neurológica que impacta algumas habilidades da pessoa, como atenção, gestão de tempo e regulação emocional. Esse conjunto de sintomas pode, e inevitavelmente vai, causar algum impacto no relacionamento, normalmente levando a conflitos, desentendimentos e frustrações para ambos.

É importante frisar que o TDAH não é um delimitador para o sucesso de uma relação. Um relacionamento saudável é construído conforme as necessidades de cada pessoa, e neste texto quero te ajudar a entender como isso é possível ao incluir o TDAH na equação.

TDAH faz tanta diferença assim?

Pare a leitura por alguns segundos e tente responder mentalmente o seguinte: qual é o maior desafio de qualquer relacionamento?

Provavelmente o que você pensou se encaixa nessa definição: cada pessoa tem sua visão de mundo, sua “realidade” e as coisas que entende como certas e erradas. Ao entrar em um relacionamento o grande desafio é conciliar esses dois “mundos internos”.

Assim, quem busca um relacionamento romântico terá que, inevitavelmente, lidar com as diferenças de expectativas, visão sobre a vida, valores, frequência afetiva, forma de educar os filhos, prioridades. Enfim, todas essas singularidades geram algum choque na relação, cabendo ao casal se comunicar e flexibilizar para ter uma relação saudável.

Quando acrescentamos o TDAH nessa mistura o que temos são duas pessoas diferentes, que precisam lidar com suas diferenças, mas também necessitam entender e manejar os sintomas de um transtorno do neurodesenvolvimento.

O que eu gostaria que você entendesse até aqui é que relacionamentos são complicados, isso é normal. E um relacionamento com alguém que tenha TDAH será tão complicado quanto qualquer outro, com a diferença que às vezes algum conflito pode ser motivado por sintomas do transtorno.

Eu, você e o TDAH: o que poderia dar errado?

Agora que entendemos que a questão do TDAH nos relacionamentos é que alguns dos sintomas podem gerar conflitos, melhor falar sobre esses tais sintomas, concorda?

Bom, o TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento bastante complexo, com diferentes nuances e comportamentos. Por isso, não conseguirei falar especificamente do seu tipo de TDAH (ou do seu parceiro).

Por outro lado, posso falar sobre os sintomas mais comuns desse transtorno do neurodesenvolvimento e como cada um deles impacta na dinâmica de uma relação. São eles:

Esquecimentos frequentes

Uma das características mais marcantes do TDAH é o constante esquecimento. Em um relacionamento romântico esse esquecimento pode gerar tensão e frustração.

Primeiro temos que entender a posição de quem sofre com o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade. É importante notar que o esquecimento aqui não é intencional. Quem convive com TDAH frequentemente se esquece de coisas mesmo quando faz um esforço real e intenso para tentar se lembrar.

Independentemente todo o esforço, o esquecimento acontece. Qualquer pessoa que já esqueceu algo importante sabe o que sentimos logo em seguida, não é mesmo? Constrangimento e vergonha.

Na outra direção, quem se relaciona com alguém diagnosticado com TDAH pode desenvolver a sensação de que não é importante ou é negligenciado quando seu parceiro esquece coisas importantes para a relação ou para a pessoa.

Impulsividade

Impulsividade é outro sintoma bastante popular do TDAH que pode impactar no seu relacionamento. Esse sintoma envolve agir sem pensar, tirar conclusões precipitadas ou tomar decisões sem realmente considerar todas as consequências previsíveis.

Para a pessoa com TDAH, a impulsividade também pode criar sentimentos de frustração e constrangimento. É comum que se arrependam de suas ações e sintam que não estão no controle de si. É importante que eles entendam que a impulsividade é um sintoma de sua condição e não uma falha pessoal.

Esse sintoma acontece em função de uma falta de habilidade para frear o comportamento frente a um estímulo. É como se diante de uma mesa cheia de doces, primeiro a pessoa sente vontade de experimentar e imediatamente come, depois ela começa a considerar se deveria ou não ter feito isso.

Esse é o motivo pelo qual a pessoa com TDAH pode não escutar até o final o que seu parceiro tem a dizer, levando a má interpretações e brigas evitáveis. Durante uma discussão, por exemplo, pode ser bastante difícil dessa pessoa lidar todos os sentimentos envolvidos e controlar seus impulsos.

Esses elementos geram uma falta de confiança no relacionamento em função das tomadas de decisões precipitadas, comportamentos arriscados e outras ações sem o consentimento ou concordância do parceiro (comprar algo caro, por exemplo).

Entender a impulsividade de alguém com TDAH pode ser um verdadeiro desafio. Tendemos a comparar essas ações com nosso próprio pensamento, que é frequentemente mais ponderado e planejado. Essa tentativa de encaixar a impulsividade dentro de uma moldura de raciocínio estruturado muitas vezes nos leva a interpretações equivocadas.

No relacionamento, o parceiro dessa pessoa com TDAH pode sentir a tensão resultante dessa discrepância de percepções. A dificuldade em compreender a impulsividade pode gerar frustrações e mal-entendidos, impactando a confiança e a dinâmica do relacionamento.

Dificuldade para gerir as emoções

Certamente o sintoma menos conhecido, mas um dos grandes focos do tratamento na psicoterapia: a baixa habilidade de gestão emocional das pessoas com TDAH.

Para alguém com TDAH, pode ser difícil administrar emoções intensas, o que pode levar a ações impulsivas, explosões ou tendência a se desligar e se isolar. Não existe uma regra exata para isso, mas usualmente emoções “negativas” tendem a ser mais intensas (raiva, tristeza, ansiedade, medo, desespero etc.), enquanto emoções “positivas” costumam ser mais controláveis (felicidade, amor, dentre outras).

Pelo lado do parceiro, as explosões emocionais podem ser difíceis de entender. Normalmente a pessoa tende a se surpreender com a proporção das emoções e pode se sentir magoada, atacada ou frustrada por conta desse baixo controle emocional.

É importante observar que a regulação emocional é uma habilidade que leva tempo para se desenvolver e melhorar. Paciência e apoio de entes queridos faz toda a diferença no processo. Além disso, é normalmente necessária a ajuda de um psicólogo nessa etapa de desenvolvimento.

Gerenciando os gatilhos do TDAH em um relacionamento romântico

Você e seu parceiro já devem ter reparado que existem alguns momentos nos quais os sintomas do TDAH são um pouco mais “intrusivos”, certo? Isso acontece por conta de alguns gatilhos, ou seja, situações que sinalizam para os sintomas aparecerem.

Esses gatilhos podem ser diversas coisas, desde o ambiente ao redor de vocês até pensamentos, sentimentos, estratégias de comunicação e por aí vai.

É importante lembrar que os sintomas do TDAH acontecem sem que a pessoa queira. Então, nada de se sentir culpado ou de culpar o outro por conta dos sintomas. Em vez disso, entendam como os gatilhos funcionam e lidem com essa informação juntos.

Distração

Pessoas diagnosticadas com TDAH do tipo combinado ou do tipo desatento têm dificuldade para manter a atenção em diversas situações. Para esse perfil, qualquer coisa pode ser um estímulo distrator que roubará alguns segundos de atenção.

Durante uma conversa, por exemplo, a pessoa fica facilmente distraída com os barulhos da TV, mexendo no próprio telefone ou desviando a atenção para qualquer outro estímulo disponível no ambiente.

Veja bem: a distração aqui é inevitável. Caso haja algo para “roubar a atenção”, isso vai acontecer. Por isso, um dos grandes segredos para lidar com todos os gatilhos do TDAH, especialmente com a distração, é o planejamento.

Assim, minha sugestão é que vocês estabeleçam limites claros sobre as distrações, como:

  • ir para um local mais silencioso ou desligar as distrações antes de conversarem sobre algo importante;
  • regra sobre o uso de celulares para que ninguém se sinta desrespeitado ou não escutado na relação (não usar o celular durante o almoço, por exemplo);
  • focar apenas na companhia um do outro e se afastar de outros distratores durante o momento de ficarem juntos (colocar o celular dentro da bolsa enquanto vocês saem para jantar, por exemplo).

Esquecimento

O esquecimento é um sintoma relativamente comum e frequente de pessoas diagnosticadas com TDAH. Mesmo tendo isso em mente, ainda é difícil lidar com ele, certo?

É por isso que mesmo com o entendimento claro, precisamos lidar com esse sintoma de uma forma que vocês, como casal, possam gerir seus compromissos de maneira saudável (isso é especialmente necessário caso tenham filhos).

A forma mais eficaz de lidar com o esquecimento é usando estratégias de organização e gestão. Algumas das soluções que normalmente sugiro para meus pacientes com TDAH durante as consultas são:

  • coloquem lembretes visuais pela casa, como listas de tarefas e cartões de instrução, para datas e atividades importantes (uma lista de atividades na geladeira funciona muito bem);
  • priorizem os eventos importantes e escolham algum sistema de lembretes que funcionem para os dois (Agenda Google para marcar as datas compartilhadas, por exemplo);
  • criem a rotina de se planejarem juntos e repassarem os compromissos importantes da semana (e, se possível, do dia).

Hiperfoco 

Contrariando o que muita gente pensa, a pessoa com TDAH tem alguns picos de atenção. Isso usualmente acontece quando ela se interessa pelo que está fazendo. Durante esses períodos a pessoa fica completamente absorvida pela tarefa ou atividade e tende a não perceber outros estímulos.

Quando isso acontece com frequência, o casal tende a ir se afastando gradualmente. Algumas consequências diretas disso são a perda de intimidade, perda de atração, sentimento de solidão e por aí vai.

A estratégia para que vocês possam lidar com o hiperfoco também vem de acordos que precisam ser elaborados, como:

  • programar pausas regulares;
  • marcar um tempo para ficarem juntos ao longo da semana (mesmo durante períodos com excesso de trabalho);
  • definir um horário para trabalho e lazer, sempre mantendo um equilíbrio saudável (importante dizer que algumas pessoas terão hiperfoco no trabalho, enquanto outras se prendem a atividades de lazer).

Impulsividade

Pessoas com diagnóstico de TDAH têm dificuldade de frear seus impulsos. Em um relacionamento isso aparece em frases ditas sem querer, “no calor do momento”, e decisões impulsivas que afetam a ambos (mudar de emprego, vender o carro, comprar algo de alto valor etc.).

A grande questão aqui é que a impulsividade não nos permite criar regras. Uma alternativa é que a pessoa com o diagnóstico faça práticas de mindfulness. São pequenos exercícios de relaxamento, meditação e atenção que melhoram a habilidade de controlar os impulsos.

Outra opção é a psicoterapia. Durante o tratamento a pessoa com TDAH pode desenvolver uma série de habilidades fundamentais para a vida dela, como organização, planejamento, controle de distratores, regulação emocional etc.

É importante lembrar que o parceiro sem TDAH também tem um papel importante a desempenhar no gerenciamento da impulsividade. É fundamental compreender que a impulsividade não é intencional e, muitas vezes, a pessoa se arrepende quase instantaneamente do que fez

Por isso, dê um tempo para que a pessoa com TDAH possa refletir sobre suas ações antes de responder. Quando for possível, escute as desculpas do parceiro quando ele realmente demonstrar arrependimento por algo dito. Apenas cuidado para não ser conivente ou normalizar comportamentos prejudiciais para ambos (nem toda desculpa precisa ser aceita, afinal de contas).

Desregulação emocional

Em alguns momentos a intensidade das emoções é tanta que o comportamento de quem tem TDAH pode ficar um pouco diferente. Desde “se fechar para o mundo”, durante um momento de tristeza, à “explodir” por um pico de raiva. Essas reações são fruto de um processo chamado de “desregulação emocional”.

Com as emoções só existe um caminho: elas vêm, não adianta tentar segurar. Com isso em mente, e respeitando o tempo de cada um processar as emoções no momento, existem algumas coisas que podem ser feitas com relação a esse gatilho:

  • criem estratégias de comunicação, como pausar a discussão quando as emoções estão muito intensas, e terminem a conversa em outro momento;
  • conversem sobre suas emoções regularmente. Aproveitem enquanto elas não estão intensas para identificá-las e aprender a falar sobre;
  • criem uma estratégia sobre como cada um de vocês lidará com a desregulação emocional quando acontecer — e ela vai acontecer, pode acreditar.

TDAH e comunicação na relação: dicas para aprimorar a conexão e o entendimento

Quando se trata de relacionamentos, a comunicação é fundamental. É assim que nos conectamos com nossos parceiros, compartilhamos nossos sentimentos e construímos uma base sólida para o futuro. 

No entanto, para casais em que um dos parceiros foi diagnosticado com Transtorno de Deficit de Atenção/Hiperatividade, a comunicação tem algumas “sutilezas” a mais. Os sintomas do TDAH, como impulsividade, esquecimento e problemas relacionados à atenção podem dificultar a comunicação eficaz.

Então, como melhorar sua comunicação e manter uma conexão saudável? Podemos considerar algumas estratégias que valem para ambos.

Pratiquem a escuta ativa

Quando seu parceiro estiver falando, ouça ativamente e se envolva com o que ele está dizendo.

Falando de modo prático, a escuta ativa funciona assim: precisamos prestar atenção ao que nosso parceiro diz, certo? Uma forma de fazer isso é realmente escutando enquanto essa pessoa fala.

Mas não só isso, a parte “ativa” dessa estratégia vem da interação. Além de escutar, faça perguntas sobre o tema, entenda o ponto de vista da outra pessoa, explore possibilidades, faça comentários sobre o que foi dito.

Essa é uma forma de focarmos mais na conversa e menos no que queremos dizer logo em seguida. Em outras palavras, a escuta ativa é uma estratégia para demonstrar curiosidade e interesse pelo que a outra pessoa diz e, ao mesmo tempo, manter nossa atenção focada na comunicação.

Usem declarações com “eu”

Você já deve ter escutado que é mais fácil olhar para o outro do que para si, certo? Isso é uma verdade dura, chata, incômoda, mas não deixa de ser verdade.

Nós, humanos, temos a tendência a olhar pouco para nosso próprio comportamento e muito para o da outra pessoa. Por isso, não raramente casais brigam por conta desse “singelo” detalhe.

Parece pouca coisa, mas não é. Imagine o seguinte: a pessoa chega em casa, anda com o tênis sujo pela sala e não nota que o chão foi limpo. Já gera um incômodo só de imaginar, né?

Nesse cenário, consigo imaginar um casal discutindo com frases bastante ácidas, como “você sempre suja tudo, não presta atenção em nada”, “você sempre suja e bagunça tudo”, “você só sabe sujar as coisas”, “não aguento mais você e toda sua falta de respeito”.

Todas essas frases são genéricas, abertas e criticam diretamente a pessoa, reparou? Não estamos falando sobre ela ter sujado o chão, mas sobre ela SER SUJA, BAGUNCEIRA, DESRESPEITOSA. Estamos atribuindo essas características a ela.

Para uma briga, essa parece uma forma inteligente de agir, principalmente se não quisermos resolver nada e ainda ficar sem falar com nosso parceiro por um tempo. Por outro lado, vamos imaginar um cenário diferente? Em vez de brigar, e se nosso objetivo for manter um relacionamento saudável? Bom, precisamos da estratégia do “eu” nesse caso.

No lugar de colocar tudo em cima do seu parceiro, fale sobre você. Em vez de “você nunca me escuta”, tente dizer “eu não me sinto ouvindo quando você me interrompe”. Em vez de “você só sabe sujar tudo”, tente “quando eu limpo a casa e você anda pela sala com o tênis sujo eu sinto que meu esforço para manter a casa limpa está sendo desprezado”.

Fale de você e como você se sente. Mostre ao seu parceiro as consequências das ações dele na sua forma de pensar, sentir e imaginar o relacionamento.

Com essa estratégia, em vez de vocês se tornarem duas pessoas mandonas que estão sempre tentando controlar o outro ou brigar, ambos ganham o super poder de falar sobre os próprios sentimentos e de mudar como agem consoante ao bem-estar do parceiro.

E cá entre nós, é mais fácil a outra pessoa te ouvir, sem tentar se defender, quando você ataca ela ou quando fala dos seus sentimentos?

Além disso, você responsabiliza o outro pelas ações dele e deixa que ele tome a decisão de mudar, já que continuar agindo da mesma forma só faria você se sentir pior — e num relacionamento saudável nós nos preocupamos com nosso parceiro, então ao ouvir algo assim ficaremos mais atentos.

Mas olha, não pensa que isso é mágica, tá? Comportamento é difícil de ser mudado. Você pode esperar uma mudança nos primeiros dias, e depois os hábitos tendem a voltar. Então, é o momento de conversar novamente, mas não para dizer como se sente e sim para lembrar seu parceiro do combinado. A cada nova conversa, maior será o período da mudança de comportamento, até que haja uma mudança definitiva.

Façam pausas

Quando pensamos em TDAH e comunicação, dois pontos bastante sensíveis são a regulação emocional e as questões relacionadas à atenção.

Em primeiro lugar, uma discussão mais acalorada é normal em qualquer relacionamento. Mas com o baixo controle inibitório da pessoa com TDAH essa “temperatura” pode subir demais, tanto para o lado da tristeza, com episódios de choro ou fechamento completo, quanto para o da raiva, com socos na parede, xingamentos e itens quebrados ao serem jogados contra a chão.

O exemplo foi intencionalmente exagerado para fins didáticos, tudo bem? Mas isso não significa que esses cenários não possam acontecer.

Já o segundo ponto importante é a atenção. Alguém com TDAH tende a experienciar mudanças rápidas de atenção, focando cada hora em um estímulo diferente. Em uma conversa isso pode gerar “ruídos”, já que a atenção flutua durante a interação e parte das palavras ou frases não são escutadas.

Nesse ponto é importante entender que a pessoa com TDAH não controla sua atenção. Ela até pode querer ficar focada, mas não consegue. Por isso é importante que tanto você quanto seu parceiro se observem.

Olhem um para o outro, caso algum de vocês note que as emoções estão saindo de controle ou que a atenção já acabou, pausem a conversa. Não existe mal nenhum em continuar uma discussão depois, de cabeça fria e com foco total na comunicação.

Mas olha, cuidado para não esquecer de terminar a conversa. Marquem uma data para voltar a conversar sobre o tema e fechem o assunto — mesmo que no dia seguinte.

Usem um “totem” de comunicação

Imagine você e seu parceiro sentados juntos, segurando um totem simbólico (pode ser uma pelúcia, um dado, uma ficha, qualquer coisa representativa para vocês. A ideia é ser algo simbólico apenas).

O totem representa o poder da fala, e quem o detém tem o direito de falar enquanto o outro escuta atentamente. Esta ferramenta simples pode criar um ambiente estruturado e respeitoso para a comunicação.

Ao usar o totem, é importante estabelecer algumas regras básicas. Por exemplo, defina um limite de tempo para a vez de cada pessoa falar, garantindo que ambos os parceiros tenham oportunidades iguais de se expressar. 

Essa prática incentiva a escuta ativa e desencoraja a impulsividade, pois o parceiro sem o totem se concentra em ouvir e entender, em vez de interromper.

Mas olha, nada de exageros, viu? Às vezes será necessário usar mais tempo que o combinado, principalmente para se abrir ou para tocar em assuntos delicados. Sejam flexíveis nesse sentido.

Ao usar o totem, vocês criam um espaço seguro onde ambos se sentem ouvidos e respeitados. 

Somado a isso, essa estratégia é um meio pelo qual vocês constroem uma comunicação mais profunda, já que o interlocutor pode expressar seus pensamentos e sentimentos sem interrupção ou julgamento. É uma poderosa ferramenta metafórica que promove atenção plena e empatia no relacionamento.

Usar um totem pode ser uma maneira divertida e eficaz de garantir que ambos os parceiros tenham a oportunidade de falar e serem ouvidos. Experimente e veja como isso afeta positivamente suas conversas e conexões.

Somado a isso, conversar dessa maneira cria uma estrutura de comunicação, o que pode ajudar bastante a pessoa com TDAH a organizar seus comportamentos durante o diálogo. E um marcador físico, como o totem, é um excelente lembrete caso a atenção flutue.

Entendendo o impacto do TDAH no sexo e romance

Os sintomas de TDAH certamente podem ter um impacto na vida sexual do casal. Especialmente a dificuldade de se conectar com o presente e focar em uma coisa por vez.

Imagine o seguinte: um casal está em seu momento íntimo, ambos já estão na cama e trocando carícias. Então acontece um barulho do lado de fora de casa, talvez um carro passando, e a pessoa com TDAH muda o foco daquele contato para o som vindo da rua.

Essa mudança de atenção quebra o ritmo do sexo e a conexão entre o casal. Pensando no âmbito da fisiologia, essa desconexão atrapalha a excitação mental, dificultando a irrigação da região genital. 

Em pessoas com pênis o efeito disso é a perda da ereção ou a chamada “meia-boma”, quando o pênis não está ereto, mas também não está totalmente flácido. Já em pessoas com vulva isso gera uma redução do canal vaginal, baixa lubrificação, dor durante a penetração e incômodo na estimulação clitoriana.

Mas existem ferramentas que podem ajudar. Uma delas é a atenção plena, mais conhecida como “mindfulness”. Essa estratégia consiste em treinar nosso cérebro e corpo para focar em um estímulo por vez, mantendo a atenção no presente e sem relembrar o passado ou ficar ansioso com o futuro.

É como se vocês treinassem para se conectarem um com o outro e focarem nos estímulos prazerosos que o sexo pode proporcionar. Isso ajuda na conexão, na intimidade e também no prazer sentido durante a prática sexual.

Claro, existem muitas técnicas diferentes de atenção plena que podem ser usadas. Alguns casais acham que exercícios de respiração profunda ou visualização são úteis, enquanto outros preferem meditações guiadas ou varreduras corporais. 

A chave é descobrir o que funciona para você e seu parceiro e praticar regularmente. Ao incorporar a atenção plena em seus momentos íntimos, você pode ajudar a superar os desafios do TDAH e construir uma vida sexual mais prazerosa e com muito mais intimidade.

“Consciência Sensual”: uma técnica de atenção plena para iniciantes com TDAH

Para que você possa experimentar um pouco do efeito do mindfulness na sua vida sem precisar pesquisar, deixarei aqui uma sugestão de técnica. Tire um tempinho para testar com seu parceiro e veja como vocês se sentem ao final. É só seguir os próximos passos!

Etapa 1: preparar o ambiente

Crie um ambiente confortável, que promova a intimidade e o relaxamento. Deixe-o livre de distrações, como celulares vibrando ou tocando, TV ligada, cheiros desagradáveis ou excesso de barulhos externos. Crie um espaço que seja gostoso de ficar e ao mesmo tempo estimule o contato entre ambos.

Que tal uma vela aromática — cuidado com onde coloca essa vela, por favor! —, luzes apagadas, porta fechada e uma garrafa com água geladinha do lado da cama? São três coisas simples que poderiam fazer a diferença, mas fique livre para ser criativo e inovar. Apenas tome cuidado com os excessos, não queremos que a atenção da pessoa com TDAH seja “capturada” por outras coisas ao redor.

Etapa 2: defina uma intenção

Antes de iniciar o sexo, reserve um momento para definir uma intenção positiva. Isso pode ser feito silenciosamente ou falando abertamente com seu parceiro. Por exemplo: “A partir de agora terei uma experiência sexual com meu parceiro e meu objetivo é focar nos toques, nas sensações do corpo, no prazer que eu sinto e nas movimentações e sons que ele faz”.

É importante dizer claramente suas intenções, mesmo que apenas mentalmente, para que seu cérebro entenda o foco que precisa ser dado naquele momento. Isso ajudará na organização mental.

Passo 3: Respiração Profunda

Sente-se ou deite-se confortavelmente com seu parceiro e respire fundo algumas vezes para se concentrar. Concentre sua atenção na sensação da respiração entrando e saindo de seu corpo. Permita que sua respiração se torne mais lenta e profunda, gerando relaxamento.

Foque em jogar o ar até a região do abdômen, respirando profundamente. Experimente inspirar por 3 segundos, prender o ar por 3 segundos e expirar por 6 segundos. Repita o processo algumas vezes.

Passo 4: Escaneamento Corporal

Traga sua atenção para diferentes partes do seu corpo, começando pelos dedos dos pés e movendo-se para cima. Tente sentir os detalhes do seu corpo, como a temperatura do seu pé, posição dos dedos, pressão da suas costas na cama, tensões musculares e desconfortos.

Vá subindo sua atenção até chegar à cabeça, sempre mantendo a respiração profunda. Não julgue as sensações que sentir, apenas vá sentindo, como um observador. A medida que sua respiração for aprofundando e você conseguir se entregar ao exercício, a tensão também diminuirá.

Passo 5: Consciência Emocional

Traga consciência para o seu estado emocional sem analisá-lo ou julgá-lo. Observe quaisquer sentimentos que surgirem, como desejo, excitação ou vulnerabilidade. Não existe nada de errado em sentir as coisas e pensar em coisas.

Apensa deixe os pensamentos irem fluindo pela sua cabeça, tente não se fixar em nenhum deles, apenas observá-los, como alguém que anda em um museu e observa os quadros sem muita crítica.

As emoções vêm e vão, elas são apenas informações do seu corpo para o seu cérebro. Deixe elas percorrerem sua mente, mas não tente refletir sobre elas. Apenas entenda o que está sentindo, isso é o suficiente.

Etapa 6: conexão com seu parceiro

Direcione sua atenção para seu parceiro e para a conexão íntima que você compartilha. Mantenha contato visual, toque a pessoa a sua frente, ouça suas dicas verbais (gemidos, orientações sobre toques, elogios etc.) e não-verbais (respiração, movimentação do corpo, toques etc.). Concentre-se no toque e na experiência que vocês estão compartilhando.

Um bom início para esse passo é tocar a palma da sua mão na palma do seu parceiro e realizar uma leve pressão. Isso gerará estímulos sensoriais (pressão, temperatura, textura etc.) que ajudarão a manter o foco. Então, continuem o processo, tocando em outras partes do corpo e sentindo as sensações do contato entre peles.

Passo 7: exploração sensual

Comece a pensar em sexo e na sensualidade enquanto continua com os toques em seu parceiro. Foque em suas mãos e nas sensações que os toques dela podem gerar tanto na outra pessoa quanto em você mesmo.

Ao utilizar os lábios e língua, foque sua atenção completamente nessas partes e perceba todo o universo sensorial que podem te oferecer. Fechar os olhos pode ajudar a focar ainda mais na experiência tátil, ou você pode explorar também o estímulo visual (olhar para o corpo do seu parceiro e para as reações dele). Veja o que combina mais com seu perfil.

Volte sua atenção, também, para a movimentação pélvica. Casais que praticam a penetração podem focar na movimentação de “entrar e sair” que acontece. Quando feito com foco e de maneira mais lenta esse simples movimento fica muito prazeroso.

Uma música de fundo em um ritmo mais lento pode ajudar a ditar a força e a frequência desses toques e movimentos, e tudo o que vocês precisam fazer é focar no sexo e seguir o ritmo.

Deixarei uma sugestão de playlist para vocês, mas fiquem à vontade para buscar a que mais combina com o clima do casal.

Etapa 8: observação sem julgamento

Ao longo da experiência íntima, pratique a observação de seus pensamentos e sensações sem julgamento. Isso significa sentir, mas não se prender ao sentimento. É como o passo 6, mas agora em toda a experiência sexual e não apenas nas emoções.

Se surgirem distrações, reconheça-as e gentilmente direcione sua atenção de volta ao momento presente e à conexão com seu parceiro. Fazer isso como um diálogo mental pode ajudar, algo como “me distraí com o barulho da geladeira, mas agora estou fazendo sexo com meu parceiro e focarei nisso”.

Tudo bem perder a conexão às vezes, o importante é conseguir se conectar novamente — e se conectar é uma habilidade que precisa ser treinada.

Passo 9: Gratidão e Encerramento

Após a experiência íntima, reserve um momento para expressar gratidão pelo momento vivido e experiência compartilhada. Pode ser apenas você consigo mesmo, sem seu parceiro por perto. Reflita sobre os aspectos positivos e emoções que você experimentou durante a prática.

Isso reforçará os aprendizados tidos, como: é possível focar no sexo, tudo bem perder a conexão e voltar, ir devagar e focar nas sensações é importante, sentimos muito mais prazer quando aproveitamos cada momento e não apenas o orgasmo. Ser grato a isso significa reconhecer que você consegue se sentir amado, desejado e excitado na relação com seu parceiro.

Lembre-se, a chave para desenvolver a atenção plena durante o sexo é abordar cada etapa com curiosidade, abertura e não julgamento. A prática regular aumentará sua capacidade de permanecer presente e conectado com seu parceiro, melhorando a cada dia a experiência sexual de vocês.

Atenção! É importante adequar essa técnica às suas necessidades e preferências específicas. Sinta-se à vontade para modificar as etapas ou adicionar elementos que combinem com você e com os desejos e limites de seu parceiro.

Para algo ainda mais personalizado, recomendo buscar a ajuda de um psicólogo.

Apoiando seu parceiro com e sem TDAH: dicas para construir um relacionamento forte

Construir um relacionamento forte requer dedicação e esforço de ambos os parceiros. Nesse sentido, existem algumas palavrinhas que ainda gostaria de tocar com vocês sobre o TDAH e a construção dessa relação.

Últimas palavras para o parceiro SEM TDAH

É essencial não levar os sintomas do seu parceiro para o lado pessoal. Não é sobre você! Você já se sentiu frustrado ou magoado quando seu parceiro esquece algo importante ou pareceu distraído? Em vez de ficar chateado, incentive seu parceiro a procurar ajuda profissional e apoie-o na busca de maneiras de gerir seus sintomas.

Você consegue pensar em um momento em que se sentiu julgado ou criticado por seu parceiro? Como aquilo fez você se sentir? Provavelmente não muito bem, certo? Pois é, agora imagine como isso fica ainda pior quando a causa do conflito é algo que foge completamente do seu controle e você precisará lidar com isso pela vida inteira.

Fica ainda mais pesado, né? Por isso não podemos julgar. Agora, é claro que você também não tem “sangue de barata”. Óbvio que os comportamentos da pessoa, sejam causados pelo TDAH ou não, vão te afetar em algum nível. É aí que entra a comunicação assertiva, especialmente as declarações com “eu”, como vimos hoje.

Moral da história: é impossível não sermos afetados, mas quando isso acontece precisamos saber nos expressar para não martirizar nosso parceiro por conta de um transtorno mental que ele já lida e sofre com ele diariamente.

Últimas palavras para o parceiro COM TDAH

Busque tratamento e assuma o controle da sua vida! TDAH tem tratamento e você pode ter muito mais qualidade de vida ao encontrar um bom profissional para acompanhá-lo. Com o cuidado adequado os sintomas do transtorno podem afetar cada vez menos sua vida.

Você já se sentiu envergonhado ou constrangido com seu TDAH? Infelizmente isso é normal, vivemos em uma sociedade que atribui esquecimentos, impulsividade e falta de atenção a traços de caráter, preguiça e falta de empenho, não a questões pertinentes ao neurodesenvolvimento.

Por isso, sei que o que direi é difícil de entrar na cabeça, por mais fácil que seja de entender, mas faça esse esforço, combinado?

Você NÃO é os seus sintomas. Eles são apenas uma parte pequena de tudo o que você consegue fazer e do que conquistou até hoje. Por isso, não tenha medo de comunicar seus pensamentos e sentimentos com seu parceiro. Em vez de se afastar ou desligar, tente se expressar e trabalhar em conjunto para encontrar soluções.

Quando notar que fez algo impulsivo ou que trouxe alguma frustração para a relação sem querer, reconheça e comunique. Assim seu parceiro entenderá que não está sozinho e que você consegue reconhecer seus próprios deslizes.

Para fechar com chave de ouro

Finalmente, ambos os parceiros devem se esforçar para aprender mais sobre o TDAH e como isso afeta seu relacionamento. Compreender o distúrbio e seu impacto pode ajudar vocês dois a desenvolverem empatia e compaixão um pelo outro.

E claro, ajudarei vocês nisso também. Fiz o texto mais completo da internet com todas as informações básicas que você e seu parceiro precisam saber sobre o TDAH. Para ler este conteúdo basta clicar aqui.

SOBRE O AUTOR: Sou um psicólogo (CRP 04/51810) dedicado a ajudar pessoas a desbloquearem seu potencial máximo e alcançarem o sucesso em suas vidas. Minha missão é clara: eliminar as barreiras que impedem você de prosperar. Entendo que a jornada do desenvolvimento pessoal pode ser complexa, e é por isso que minha abordagem é sempre empática e flexível. Acredito que cada pessoa é única, com sua própria história, desafios e objetivos. Você não será rotulado aqui; em vez disso, exploraremos juntos o que está por trás de suas ações, pensamentos e aspirações. Com mais de 7 anos de experiência, estou comprometido em fornecer resultados tangíveis. Trabalho com abordagens baseadas em evidências, sempre considerando o contexto individual. Quer dar um passo em direção a uma vida mais plena e completa? Clique aqui e agende sua primeira consulta comigo!

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