Você está em um relacionamento saudável ou abusivo? Saiba como diferenciar e agir

relacionamento abusivo

Muitas pessoas sonham em encontrar um amor verdadeiro, que as faça felizes, as respeite e apoie. Mas nem sempre isso acontece. Às vezes, o que parece ser um relacionamento perfeito se revela uma fonte de sofrimento, de violência e de controle

É o que chamamos de relacionamento abusivo, uma forma de agressão que pode afetar a saúde física, emocional, psicológica e sexual das vítimas. Mas como saber se você está em um relacionamento abusivo? Quais são os principais sinais que indicam que o seu parceiro está te fazendo mal? E o que fazer caso você descubra que está nessa situação?

Neste texto, explicarei o que é um relacionamento abusivo, quais são as suas características e as suas consequências, e como você pode se proteger e se libertar desse tipo de violência.

O que é um relacionamento abusivo?

Um relacionamento abusivo é aquele em que uma das partes exerce poder ou pressão excessiva e contínua sobre a outra, de forma a gerar dependência, medo, isolamento, insegurança e impedir que o outro se expresse ou aja livremente. Esse tipo de relação pode envolver abusos de diversas naturezas, como psicológicos, emocionais, físicos, sexuais, financeiros, culturais, etc.

Um relacionamento abusivo não é apenas uma questão de humor ou de personalidade. É um padrão de comportamento que visa dominar e manipular o outro, muitas vezes de forma sutil e gradual, até que a vítima comece a questionar sua própria sanidade e se sinta presa e impotente. O abusador pode usar de diversas estratégias para conseguir o que quer, como chantagens, ameaças, mentiras, humilhações, críticas, ciúmes, controle, isolamento e em casos mais graves a violência física e psicológica.

É importante entender que um relacionamento abusivo não é normal, saudável, nem amoroso. É uma forma de violência e de desrespeito, que pode causar danos irreparáveis à saúde mental e física da vítima. Por isso, é fundamental reconhecer os sinais de um relacionamento abusivo e buscar ajuda para sair dessa situação. Existem diversos serviços e profissionais que podem oferecer apoio e orientação para quem vive ou viveu um relacionamento abusivo, como psicólogos, advogados, assistentes sociais, delegacias da mulher, centros de referência e ongs.

Quais são os sinais de um relacionamento abusivo?

Um relacionamento abusivo nem sempre é fácil de identificar, pois muitas vezes o abusador usa de artifícios para disfarçar ou justificar suas atitudes. No entanto, existem alguns sinais que podem indicar que você está em uma relação abusiva e que precisa de ajuda. 

A seguir, explicarei os principais sinais, que podem se manifestar de forma isolada ou combinada, e diferentes intensidades e frequências a depender de cada arranjo. Lembre-se que nenhum deles é normal ou aceitável em uma relação saudável e que você merece respeito e amor.

Todo comportamento ruim é justificado por excesso de “amor”

Um dos sinais mais comuns de um relacionamento abusivo é quando o abusador tenta justificar seus comportamentos ruins por excesso de “amor”. Por exemplo, ele pode dizer que te agride, te xinga, te controla ou te isola porque te ama demais e não quer te perder

Ele pode também dizer que você é a única pessoa que o entende e que o faz feliz, e que por isso ele não pode viver sem você. Essas são formas de manipular o seu sentimento e de fazer você se sentir culpada ou responsável pelo bem-estar dele.

Tentativas de mudar seu comportamento

Outro sinal de um relacionamento abusivo é quando o abusador tenta mudar o seu comportamento, de forma a adequá-lo aos próprios desejos e expectativas. Ele pode usar da crítica como uma forma de te desencorajar a agir como está acostumada a agir. Talvez sejam comentários negativos sobre suas amizades, sua maneira de estudar, suas roupas, a forma como fala, seu trabalho, sua família etc.

Outra prática comum é se impor sobre tudo, desde assuntos triviais até questões importantes. Ele tende a não aceitar que você tenha uma visão diferente da dele, e consequentemente tentar moldar suas respostas, dizendo que você é muito tímida, muito agitada, muito sensível, muito racional, etc.

Essas são formas de desvalorizar a sua identidade e de fazer você se sentir inadequada ou inferior. O abusador quer que você se torne uma extensão dele, que pense como ele, que aja como ele, que seja como ele, como se fosse uma propriedade dele.

Ele não te aceita como é, mas sim como ele quer que você seja.

Controle constante sobre você e o que faz

Mais um sinal de um relacionamento abusivo é quando o abusador exerce um controle constante sobre você e o que faz. Ele pode querer saber onde você está, com quem está, o que está fazendo, pensando, planejando; pode usar de truques para te fazer mudar de roupa, desde críticas sobre a vestimenta até ordens diretas e chantagem emocional.

Além disso, essa pessoa pode exigir acesso às suas senhas, e-mails, redes sociais, aplicativos, aos seus extratos bancários e te monitorar diariamente, dizendo que isso é prova de confiança, e gerando uma constante sensação de que ele sempre sabe o que você está fazendo.

Essas são formas de invadir a sua privacidade e de limitar a sua liberdade. O abusador quer ter o controle total sobre a sua vida, sobre as suas decisões, sobre as suas ações. Ele não confia em você, nem respeita a sua autonomia, muito menos valoriza a sua independência. Ele não quer que você tenha uma vida própria, mas sim que dependa dele para tudo.

Superproteção como justificativa para te controlar

Quando o abusador usa a superproteção como justificativa para te controlar, ele está disfarçando o seu controle e fazendo você se sentir grata ou culpada. Ele pode dizer que não quer que você faça certas coisas, como sair ou viajar, porque ele se preocupa com você e quer te proteger de possíveis perigos.

Ele pode também dizer que não quer que você se afaste dele, porque te ama muito e não suporta a ideia de te perder. Pode, ainda, dizer que sabe o que é melhor para você e que quer te poupar de possíveis problemas.

Essas são formas de limitar as suas escolhas e de fazer com que se sinta dependente e insegura. O abusador quer que você acredite que ele é o seu protetor. Que você pense que ele é o único que se importa e que te entende. Aqui estamos falando de “armas psicológicas” para gerar uma dependência a longo prazo e tornar o término da relação cada vez mais difícil.

Agressões verbais e psicológicas

Quando o abusador pratica agressões verbais e psicológicas contra você, ele está agredindo a sua autoestima e fazendo você se sentir mal, triste e deprimida. Ele pode usar de palavras ofensivas para te atingir. Ou, em alguns casos, usar o silêncio e a indiferença como uma maneira de te punir por agir de forma diferente do que ele gostaria ou havia ordenado.

Essas são formas de atacar a sua mente e o seu coração, e de fazer você se sentir inútil. Uma pessoa triste, que duvida das próprias competências e capacidades é, também, alguém mais fácil de manipular, porque é uma pessoa que está passando por uma grande fragilidade — e o abusador cria essa fragilidade intencionalmente.

Agressões físicas

Um sinal grave de uma relação abusiva é quando alguém se sente no direito de agredir fisicamente o outro, usando tapas, socos, chutes ou qualquer outra forma de violência que machuque o seu corpo e cause dor e medo. 

Geralmente, uma relação abusiva não começa assim, mas é ao sofrer agressões físicas que muitas pessoas percebem que a sua relação está longe de ser saudável ou sequer aceitável. Porém, nesse estágio, o abuso já é tão intenso que a pessoa pode se sentir insegura e até ter medo de terminar a relação por causa das ameaças à sua integridade física.

Essa é uma maneira do abusador exercer um controle extremo sobre a vida da parceira, fazendo com que ela tenha receio de cada atitude que toma, com medo de ser “punida” novamente. E assim como em outros casos, esses atos também podem ser disfarçados de amor ou preocupação, mas não se deixe enganar, não há nada que justifique agressões físicas em um relacionamento adulto, maduro e saudável.

Ameaças e chantagens

Dentre as estratégias de manipulação mais comuns, as ameaças e as chantagens, especialmente as emocionais, normalmente fazem parte de um relacionamento abusivo. Ao se sentir ameaçado, notar o risco do término ou querer impor sua vontade, o abusador pode ameaçar te deixar, te prejudicar, divulgar coisas privadas a seu respeito, como fotos, atacar as pessoas que você ama ou até diz que irá prejudicar a si mesmo, como ameaças de suicídio.

Essa é mais uma das formas de controle que existem dentro de um relacionamento abusivo, e é outra das que costuma passar despercebidas em função da sua sutileza. Afinal de contas, quando a pessoa ameaça se matar parece que ela está realmente triste com a situação, mas quando unimos esse comportamento com todas as outras formas de controle, fica claro o abuso que está acontecendo e a tentativa de manipulação

Tenta te afastar de amigos, familiares e pessoas próximas

Um relacionamento abusivo é como uma situação com reféns. Para que ele perdure é preciso que a vítima não tenha como fugir. Por isso, afastá-la das principais armas que ela poderia usar para sair dessa relação é fundamental. E é justamente isso que o abusador faz.

Alguém que tenha contato com amigos e familiares tem a quem recorrer e tem pessoas que se preocupam e alertam sobre como a relação dela pode ser tóxica e perigosa. Assim, um dos principais caminhos que o abusador tem para ter controle sobre a vítima é afastando-a de todos que poderiam ajudá-la.

Ele faz isso criticando essas pessoas, criando hipotéticas situações de traição, acusando os familiares da pessoa de manipulação e de serem injustos,  dizendo que a vítima é madura o suficiente para tomar suas próprias decisões e que seus amigos a estão influenciando negativamente e prejudicando sua vida, tentando atrapalhá-la de ter um verdadeiro amor, que são apenas “invejosos”.

Isso é apenas retórica, uma estratégia de manipulação para pouco a pouco se tornar a única fonte de apoio que você poderia ter na vida, não só te prendendo em um relacionamento abusivo, mas também gerando uma dependência.

Ele te diminui o tempo todo

O abusador precisa tirar todas as defesas da sua vítima, senão ela poderia reagir e sair desse relacionamento. Além do afastamento social, ele precisa que essa pessoa acredite que é incompetente, inútil, que nunca encontrará ninguém melhor do que ele e que estar neste relacionamento é uma sorte dela.

É necessário acabar com as forças da vítima, deixando-a vulnerável e suficientemente incapaz de reagir aos abusos. Esse é um dos principais caminhos que o abusador usa para minar a sua autoestima e te fazer acreditar que não existe vida fora desse relacionamento, que você não merece coisa melhor.

Eu sei que parece difícil o que vou dizer, e sei que dá medo, mas sair de uma relação assim é a melhor coisa que pode acontecer para você e o seu futuro. É difícil acreditar que as coisas podem ser diferentes, principalmente quando somos diminuídos e criticados todos os dias, dia após dia, e temos nossas fragilidades e vulnerabilidades tão expostas assim. Mas é verdade.

Ele se importa apenas consigo mesmo

A todo momento o abusador está falando sobre a relação e sobre como te ama, mas na prática o que ele busca é apenas a autossatisfação. Em um relacionamento abusivo, os elogios e as críticas são feitas para selecionar os comportamentos que a pessoa gostaria que fossem repetidos pela sua parceira

Por mais que exista uma “máscara” de amor e uma falsa proteção, no cerne das ações está a constante tentativa de controle e de moldar sua parceira da forma como ele gostaria que fosse. É por isso que podemos dizer que nesse tipo de relação, o abusador não se importa com sua cônjuge, mas sim com as próprias vontades e anseios. 

Veja o seguinte: seu parceiro faz coisas que contribuem com o seu crescimento, mesmo que ele não tenha ganho nenhum com isso? Ou às intervenções sempre tem alguma relação com os próprios ganhos, como criticar sua roupa para evitar que você saia na rua com algo que ele teria ciúme? É realmente para protegê-la que ele diz isso ou é porque ele quer que você aja de outra maneira?

Justifica comportamento abusivo pelo uso de drogas

Justificar comportamentos agressivos pelo abuso de alguma substância é outro comportamento que precisamos tomar muito cuidado, mesmo que a toxicodependência seja uma doença grave e mereça tratamento e atenção, ela não justifica agressões feitas diretamente contra você.

É verdade que quando usamos uma substância não estamos em pleno controle das nossas ações, mas partir desse ponto para justificar uma violência é algo inconcebível. No final das contas essa pode ser apenas mais uma estratégia para se ausentar da responsabilidade pelo próprio comportamento abusivo, principalmente se você for a maior prejudicada por essa dependência química. 

O que fazer ao descobrir que estou em um relacionamento abusivo?

Descobrir que você está em um relacionamento abusivo pode ser um momento difícil e doloroso. Você pode se sentir confusa, assustada, culpada, envergonhada ou até mesmo duvidar da sua percepção. Mas saiba que você não está sozinha e que existem formas de se proteger e se libertar dessa situação. Aqui estão algumas dicas de como agir ao perceber que você está sofrendo abuso do seu parceiro:

Proteja-se e avalie os riscos

O primeiro passo é garantir a sua segurança e a das pessoas que você ama, como filhos, familiares ou amigos. Verifique se existe algum risco real para a sua vida ou a deles, como ameaças, violência física, armas ou perseguição. 

Se você se sentir em perigo, procure um lugar seguro, como a casa de alguém de confiança ou um abrigo para mulheres. Você também pode ligar para o número 180, que é o canal de atendimento à mulher em situação de violência, e pedir orientação e apoio.

Procure ajuda especializada

Se você constatar que sair dessa relação representa um risco grave para a sua vida, você precisa de ajuda profissional. Você pode procurar uma ONG que atenda mulheres em situação de violência doméstica, como a Casa da Mulher Brasileira da sua região, a Tamo Juntas ou a Associação Fala Mulher. Rede Mulher. Essas ONGs e associações oferecem orientação jurídica, psicológica e social.

Você também pode ir à delegacia da mulher mais próxima e registrar um boletim de ocorrência, solicitando medidas protetivas de urgência, como o afastamento do agressor ou a proibição de contato. Você tem direito à assistência gratuita de um advogado ou defensor público, caso não possa pagar.

Busque apoio social

Você não precisa passar por isso sozinha. Recorra a amigos e familiares que possam te apoiar e te ajudar a sair dessa situação. Eles são uma oportunidade de ter um ombro amigo, conselho, abraço ou até mesmo um lugar para ficar.

E olha, nem consigo imaginar como é passar pelo que você vem passado, e sei, inclusive pelo relato das minhas pacientes, o quão difícil pode ser lidar com a vergonha nesses momentos

Olhar para um amigo que já havia te alertado sobre essa relação e dizer que ele estava certo e que você precisa de ajuda talvez seja uma coisa muito difícil de ser feita, mas se coloque no lugar dele: será que você julgaria alguém que está saindo de um relacionamento abusivo? Provavelmente não.

Buscar ajuda é um ato de coragem, e enfrentar todos esses sentimentos em prol de uma vida melhor e mais saudável é justamente o que te faz ser uma pessoa corajosa. Tudo bem sentir vergonha, mas lembre-se de que essa vergonha é apenas sua, e é bem provável que as pessoas que te amam não te julgarão ao saberem da história completa.

Busque ajuda psicológica

Após se proteger e sair da situação de abuso, é muito importante que você busque ajuda de um profissional de saúde mental, como um psicólogo ou um psiquiatra, para superar os traumas que aconteceram durante essa relação abusiva.

Eles podem te ajudar a entender o que você viveu, a lidar com as emoções, a recuperar a confiança e a autoestima, e a seguir com a sua vida. Você pode procurar um atendimento particular ou público, como o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) da sua região ou algum serviço de acolhimento com acompanhamento psicológico oferecido pelas ONGs que falamos anteriormente.

Lembre-se: você não é culpada pelo que aconteceu e você não está sozinha. Você pode e deve buscar ajuda e apoio para sair dessa situação e recomeçar a sua vida. Você merece ser feliz e ter um relacionamento saudável, baseado no amor, no respeito e na confiança.

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SOBRE O AUTOR: Sou um psicólogo (CRP 04/51810) dedicado a ajudar pessoas a desbloquearem seu potencial máximo e alcançarem o sucesso em suas vidas. Minha missão é clara: eliminar as barreiras que impedem você de prosperar. Entendo que a jornada do desenvolvimento pessoal pode ser complexa, e é por isso que minha abordagem é sempre empática e flexível. Acredito que cada pessoa é única, com sua própria história, desafios e objetivos. Você não será rotulado aqui; em vez disso, exploraremos juntos o que está por trás de suas ações, pensamentos e aspirações. Com mais de 7 anos de experiência, estou comprometido em fornecer resultados tangíveis. Trabalho com abordagens baseadas em evidências, sempre considerando o contexto individual. Quer dar um passo em direção a uma vida mais plena e completa? Clique aqui e agende sua primeira consulta comigo!

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