Tipos de ansiedade: entenda as diferenças e as semelhanças entre eles e saiba como se livrar desse problema

Certa vez eu estava em um ônibus voltando para casa depois de uma ida ao cinema. Era por volta de 21h e em certo momento estávamos apenas eu, o motorista e o trocador. Não conhecia muito bem a região na qual seguíamos, e a bateria do meu celular havia acabado. Tive a “sensação” de que havia perdido meu ponto.

De repente minha mente começou a ficar agitada, pensando no que eu precisaria fazer, como resolveria aquele problema, o que faria para voltar ao ponto certo. Coisas como “não tenho dinheiro para outra passagem” e “não consigo ligar para ninguém” passaram pela minha cabeça.

Quanto mais eu pensava, mais reforçava a crença de que estava perdido. Meu peito começou a doer, o coração estava acelerando. Minha respiração estava estranha, comecei a sentir falta de ar.

Uma tontura e fraqueza se espalhou por todo o meu corpo. Passei a temer pela minha vida, como se pudesse morrer a qualquer instante. Mas não me movi, não fiz nada, apenas fiquei ali, paralizado. Quando entendi onde estava e como poderia agir, aos poucos essa sensação passou. Foram 15 ou 20 minutos extremamente longos e de muito desespero.

Na época eu não sabia, mas aquilo era ansiedade. Para ser mais preciso, eu estava passando por um ataque de pânico. 

O que é um Transtorno de Ansiedade?

Um Transtorno de Ansiedade não é apenas uma questão de humor. Ao falarmos de “transtorno” estamos dizendo de um nível tão elevado de medo e estresse que passa a interferir no comportamento e nas atividades diárias de alguém. Esses picos afetam a qualidade de vida da pessoa. 

A ansiedade é uma emoção natural e saudável que todos nós sentimos em resposta ao estresse. Ela ajuda a nos prepararmos para situações desafiadoras ou perigosas, ativando o Sistema Nervoso Autônomo (SNA), que regula as funções involuntárias do nosso corpo, como a respiração, o batimento cardíaco e a pressão arterial.

A ansiedade saudável começa e acaba rápido, coisa de poucos segundos a alguns minutos, sendo parte da resposta de luta ou fuga que o SNA gera, sob situações de estresse, para nos ajudar a enfrentar ou escapar do perigo. Essa resposta é adaptada a momentos passageiros, que exigem uma reação rápida e intensa.

No entanto, quando estamos submetidos a um estresse crônico, que dura por muito tempo ou se repete com frequência, essa resposta pode se tornar desregulada e prejudicial à nossa saúde mental. Nesse caso, podemos desenvolver um Transtorno de Ansiedade, que é um excesso de medo e ansiedade que não passa com o tempo e pode, inclusive, piorar quando não tratado.

Para entender na prática, imagine como seria sua vida caso você passasse por uma crise de ansiedade intensa sempre que conversasse com outras pessoas. É bem provável que começasse a evitar contato social, se afastasse de desconhecidos e abrisse mão de oportunidades importantes apenas para não lidar com essa sensação horrível, certo? Isso é um transtorno, ele REALMENTE afeta a sua vida diretamente.

Além disso, a cada dia pareceria mais difícil superar essa barreira e o nível de ansiedade ficaria ainda mais elevado ao encontrar-se com outras pessoas. Sem tratamento, esses sintomas te levariam ao isolamento completo. E aqui falei apenas de um tipo de experiência com a ansiedade desregulada.

Existem vários tipos de Transtornos de Ansiedade, como o Transtorno de Ansiedade generalizada, o transtorno de pânico, as fobias e o transtorno de estresse pós-traumático. Cada um deles tem suas próprias características, sintomas e tratamentos.

Quais são os sintomas dos Transtornos de Ansiedade??

Os Transtornos de Ansiedade podem gerar vários sintomas, que variam de acordo com o tipo e a intensidade do transtorno. Cada transtorno tem uma expressão própria, mas alguns sintomas são compartilhados entre eles e tendem a ser comuns em quase 100% das pessoas que sofrem com ansiedade. Os principais sintomas em comum dos Transtornos de Ansiedade são:

• Nervosismo, agitação ou tensão: a pessoa se sente inquieta, impaciente ou incapaz de relaxar.
• Sensação de perigo, pânico ou medo: a pessoa tem medo de situações reais ou imaginárias, que podem provocar ataques de pânico ou fobias.
• Aumento da frequência cardíaca: a pessoa tem palpitações, taquicardia ou arritmia, que podem causar desconforto ou dor no peito.
• Respiração acelerada e ofegante: a pessoa tem dificuldade para respirar, falta de ar ou sensação de sufocamento.
• Sudorese e tremores: a pessoa transpira excessivamente ou treme involuntariamente, especialmente nas mãos e pernas.
• Fraqueza ou cansaço: a pessoa se sente sem energia, fadigada ou com dificuldade para se concentrar e realizar tarefas simples.
• Insônia ou problemas de sono: a pessoa tem dificuldade para pegar no sono, acorda várias vezes durante a noite ou tem pesadelos recorrentes.
• Problemas gastrointestinais: a pessoa tem náuseas, vômitos, diarreia, constipação ou dor abdominal, que podem estar relacionados à desregulação do peristaltismo, que é o movimento involuntário do intestino.
• Dificuldade para controlar as preocupações: a pessoa se preocupa excessivamente com coisas que podem ou não acontecer, tem pensamentos negativos ou obsessivos, ou sente dificuldade para tomar decisões.

Além dos sintomas listados, existem outras dezenas também. Aqui no blog já fiz uma lista completa explicando cada um dos 35 sintomas mais comuns da ansiedade. Vale a pena conferir.

Quais são as causas mais comuns da ansiedade?

Na psicologia, a ansiedade, bem como outras patologias, como a depressão, são explicadas pelo modelo diátese-estresse, também conhecido como modelo vulnerabilidade-estresse. Esse modelo propõe que a origem de um transtorno mental depende da interação entre dois fatores: a diátese ou vulnerabilidade, que é a predisposição biológica ou psicológica para desenvolver o transtorno, e o estresse, que são os eventos ou situações que desencadeiam ou agravam o transtorno.

A relação entre fatores genéticos e comportamentais é complexa e varia de pessoa para pessoa. Por exemplo, duas pessoas que cresceram em um ambiente familiar abusivo podem ter reações diferentes: uma pode desenvolver um Transtorno de Ansiedade, em função de alguma predisposição genética, enquanto a outra pode se tornar resiliente e saudável, talvez por não apresentar a mesma predisposição. 

Da mesma forma, duas pessoas que têm uma predisposição genética para a ansiedade podem ter prognósticos diferentes: uma pode ter aprendido a regular suas emoções diante de situações estressantes e manter um equilíbrio emocional, enquanto a outra pode ser exposta a fatores que aumentam sua ansiedade sem ter o preparo necessário para proteger sua saúde mental.

Parte desse processo pode ser atribuída à sorte, já que a vida não é tão previsível e nem sempre podemos controlar as circunstâncias que nos afetam.

A vulnerabilidade é o grau de suscetibilidade que uma pessoa tem para desenvolver um Transtorno de Ansiedade. Ela pode ser aumentada de acordo com a exposição a fatores que contribuem para o estresse ou para a diminuição da capacidade de lidar com ele. Alguns desses fatores são:

• Consumo e abuso de substâncias: o uso de álcool, drogas, cafeína ou tabaco pode alterar o funcionamento do sistema nervoso, aumentar a ansiedade e causar dependência ou abstinência.
• Condições de saúde: algumas doenças físicas, como problemas cardíacos, respiratórios, hormonais ou neurológicos, podem provocar ou piorar os sintomas de ansiedade, além de gerar preocupação e medo, ou seja, estresse.
• Histórico de ansiedade pessoal ou na família: a ansiedade pode ter uma origem genética ou ser influenciada pelo aprendizado social, ou seja, pela observação e imitação de modelos ansiosos, como pais, irmãos ou amigos.
• Experiências negativas ou traumáticas na vida: situações de violência, abuso, perda, separação, rejeição ou humilhação podem deixar marcas emocionais profundas e desencadear reações de ansiedade diante de estímulos associados ao trauma.
• Inibição de comportamento: a tendência a evitar ou fugir de situações que geram ansiedade, em vez de enfrentá-las ou superá-las, pode reforçar o medo e a insegurança, além de limitar as oportunidades de crescimento e desenvolvimento pessoal.

O que é uma crise ou ataque de ansiedade?

Uma crise de ansiedade é o ponto máximo da resposta de luta ou fuga que nosso corpo consegue produzir. Por isso, ela também é uma das piores experiências que alguém pode vivenciar. É uma reação de medo intenso e desproporcional, que surge de forma repentina e sem motivo aparente, e que provoca sintomas físicos e psicológicos muito fortes e assustadores.

Para ilustrar como uma crise de ansiedade acontece, imagine a seguinte situação: você está em um supermercado, fazendo suas compras normalmente, quando de repente sente um medo inexplicável de algo ruim acontecer. 

Você não sabe o que é, talvez até perceba que não é algo real, mas mesmo assim sente que está em perigo e precisa sair dali o mais rápido possível. Seu coração começa a bater acelerado, sua respiração fica ofegante, seu corpo começa a suar e tremer. 

Você sente que está perdendo o controle, que está ficando louco, que está fora da realidade. Tem a sensação de que está sufocando, que não consegue respirar, que vai desmaiar. Em casos mais intensos, pode ter a sensação de que está se observando de fora, como se estivesse vendo um filme de si mesmo.

Você entra em pânico e quer fugir, mas não sabe para onde ir. Você se sente preso, impotente, desesperado.

Essa é uma descrição de uma crise de ansiedade típica, que tem duração de alguns minutos a algumas horas, e pode se repetir em outras ocasiões, gerando um medo constante de ter outra crise. Esse, inclusive, é um dos efeitos mais fortes dos Transtornos de Ansiedade: ao passarmos por uma crise, desenvolvemos um medo patológico de repetir a mesma experiência, e isso é um dos fatores que contribui para a inibição do comportamento.

Grande parte dos Transtornos de Ansiedade não chegam a níveis tão intensos, mas são parecidos na forma como acontecem. Talvez não seja uma sensação de sufocamento, mas apenas de falta de ar. Talvez não seja uma sensação de parada cardíaca, mas ainda assim uma dor no peito. O que varia é a intensidade do sintoma.

No exemplo, falei de estar no mercado, mas essa situação poderia acontecer em qualquer cenário. Na frente do seu chefe durante uma reunião, ao estar trabalhando e se sentir paralizado pelas demandas ou necessidade de performance, em frente a turma durante uma apresentação de trabalho. O “gatilho” da ansiedade depende da história de vida de cada pessoa.

Quais são os tipos de ansiedade que existem?

De acordo com o National Institute of Mental Health (NIMH), existe uma estimativa de que 19% dos estadunidenses adultos tenham experienciado algum Transtorno de Ansiedade nos anos de 2003. Desde então é visto uma crescente no número de casos diagnosticados, e o cenário brasileiro não é tão diferente, uma vez que compartilhamos traços culturais, econômicos e políticos. Contudo, precisamos de estudos mais recentes em nosso país para podermos afirmar valores precisos.

Por isso, é cada vez mais importante entendermos e conhecermos quais são esses Transtornos e como eles se manifestam. Para isso, separei uma lista completa para você.

Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)

É caracterizado por uma preocupação excessiva, constante e irracional com vários aspectos da vida, como trabalho, saúde, família, dinheiro, etc. A pessoa com TAG tem dificuldade para controlar sua ansiedade, mesmo sabendo que seus medos são infundados ou desproporcionais. Alguns dos sintomas específicos do TAG são:

• inquietação;
• irritabilidad;
• dificuldade de concentração;
• insônia;
• dores musculares e de cabeça;
• problemas gastrointestinais (náuseas, vômitos, diarreia, constipação ou dor abdominal).

Transtorno de Estresse Pós-traumático (TEPT)

É causado por uma exposição a um evento traumático, como um acidente, uma violência, uma guerra, um desastre natural, etc. A pessoa com TEPT revive o trauma através de flashbacks, pesadelos, pensamentos intrusivos ou reações emocionais intensas. Ela também evita situações, lugares ou pessoas que lembrem o trauma, e apresenta sintomas de hiperexcitação, como sobressalto, vigilância, raiva ou culpa. 

Alguns dos sintomas específicos do TEPT são:

• Flashbacks, pesadelos, pensamentos intrusivos ou reações emocionais intensas relacionadas ao trauma.
• Evitação de situações, lugares ou pessoas que lembrem o trauma.
• Sobressalto, vigilância, raiva ou culpa.
• Sentimentos de isolamento, desesperança ou depressão.

Transtorno do Pânico

É marcado por crises de ansiedade súbitas e recorrentes, que causam sintomas físicos e psicológicos extremos, como palpitações, falta de ar, tontura, náusea, medo de morrer, perder o controle ou enlouquecer. A pessoa com transtorno do pânico vive com o medo de ter outra crise, o que pode limitar suas atividades e sua liberdade. Alguns dos sintomas específicos do transtorno do pânico são:

• Palpitações, taquicardia, arritmia ou dor no peito.
• Falta de ar, sensação de sufocamento ou asfixia.
• Tontura, vertigem, desmaio ou instabilidade.
• Náusea, vômito, diarreia ou dor abdominal.
• Medo de morrer, perder o controle ou enlouquecer.
• Sensação de irrealidade, despersonalização ou desrealização.

Fobias específicas

São medos irracionais e intensos de objetos ou situações específicas, como animais, altura, sangue, avião, dentista, etc. A pessoa com fobia específica reconhece que seu medo é exagerado, mas não consegue enfrentá-lo. Ela evita o contato com o objeto ou situação fóbica, ou suporta com muito sofrimento e ansiedade. 

Alguns dos sintomas específicos das fobias específicas são:

• Medo intenso e persistente de um objeto ou situação específica, que é desproporcional ao perigo real que ele representa.
• Evitação ou resistência ao contato com o objeto ou situação fóbica, ou exposição com muito sofrimento e ansiedade.
• Sintomas físicos e psicológicos semelhantes aos de uma crise de ansiedade ou pânico, quando confrontado com o objeto ou situação fóbica.

Transtorno de Ansiedade Social (Fobia Social)

É caracterizado por um medo persistente e excessivo de situações sociais ou de desempenho, nas quais a pessoa se sente observada, avaliada ou julgada pelos outros. A pessoa com Transtorno de Ansiedade Social teme agir de forma humilhante, constrangedora ou inadequada, e acredita que será rejeitada ou criticada. Ela evita ou enfrenta com muita ansiedade situações como falar em público, conhecer pessoas novas, comer ou beber em público, etc.

Alguns dos sintomas específicos do Transtorno de Ansiedade social são:

• Medo persistente e excessivo de situações sociais ou de desempenho, que envolvem interação ou escrutínio dos outros.
• Evitação ou resistência a situações sociais ou de desempenho, ou exposição com muito sofrimento e ansiedade.
• Preocupação excessiva com o julgamento ou a rejeição dos outros, ou com o próprio desempenho ou comportamento.
• Sintomas físicos e psicológicos semelhantes aos de uma crise de ansiedade ou pânico, quando exposto a situações sociais ou de desempenho.
• Baixa autoestima, insegurança, timidez ou isolamento social.

Agorafobia

É o medo de estar em lugares ou situações das quais seria difícil ou embaraçoso escapar ou obter ajuda em caso de uma crise de ansiedade ou pânico. A pessoa com agorafobia teme ficar presa, perder o controle ou passar mal em público. Ela evita ou enfrenta com muita ansiedade situações como sair de casa, usar transporte público, ficar em lugares fechados ou lotados, ir ao cinema, etc. 

Alguns dos sintomas específicos da agorafobia são:

• Medo de estar em lugares ou situações das quais seria difícil ou embaraçoso escapar ou obter ajuda em caso de uma crise de ansiedade ou pânico.
• Evitação ou resistência a lugares ou situações que provocam esse medo, ou exposição com muito sofrimento e ansiedade (shows, cinemas, teatros, baladas, ruas vazias, ambientes cheios de desconhecidos etc.) .
• Dependência excessiva de outras pessoas para sair de casa ou enfrentar situações temidas.
• Sintomas físicos e psicológicos semelhantes aos de uma crise de ansiedade ou pânico, quando exposto a lugares ou situações temidas.
• Restrição da vida cotidiana, social e profissional, devido ao medo e à evitação.

Transtorno de Ansiedade de Separação

É o medo excessivo e inadequado de se separar de pessoas com as quais a pessoa tem um vínculo afetivo, como pais, cônjuge, filhos, etc. A pessoa com Transtorno de Ansiedade de separação teme que algo ruim aconteça com ela ou com seus entes queridos, e que eles sejam separados permanentemente. Ela apresenta sintomas de angústia, choro, apego, recusa em se separar, pesadelos, queixas físicas, etc. 

Alguns dos sintomas específicos do Transtorno de Ansiedade de separação são:

• Medo excessivo e inadequado de se separar de pessoas com as quais a pessoa tem um vínculo afetivo.
• Preocupação excessiva com a possibilidade de algo ruim acontecer com as pessoas de quem a pessoa se separa, como acidentes, doenças, morte, etc.
• Recusa ou resistência a se engajar em atividades que possam separá-la das pessoas, como ir à escola, ao trabalho, dormir sozinho, etc.
• Sintomas de angústia, choro, apego, birra, quando a separação é antecipada ou ocorre.
• Pesadelos recorrentes sobre a separação ou temas relacionados.
• Queixas físicas, como dor de cabeça, dor de barriga, náusea, vômito, etc., quando a separação é antecipada ou ocorre.
• Dificuldade para dormir ou ficar sozinho, sem a presença ou o contato das pessoas de quem tem medo de se separar.

Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)

É caracterizado por pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes, indesejados e intrusivos (obsessões) que causam ansiedade ou desconforto, e por comportamentos ou atos mentais repetitivos (compulsões) que a pessoa se sente obrigada a fazer para aliviar ou neutralizar a ansiedade. A pessoa com TOC reconhece que as obsessões e as compulsões são excessivas ou irracionais, mas não consegue controlá-las ou resistir a elas. 

Podemos dividir os sintomas do TOC em dois grandes grupos. O primeiro é o das Obsessões. São pensamentos, impulsos ou imagens que invadem a mente da pessoa, de forma persistente e indesejada, e que causam ansiedade ou desconforto. 

Algumas obsessões mais comuns são:

• Medo de contaminação ou de doenças.
• Preocupação excessiva com limpeza, ordem ou simetria.
• Dúvidas constantes ou necessidade de certeza.
• Pensamentos agressivos, violentos ou blasfemos.
• Pensamentos sexuais, obscenos ou proibidos.

O segundo é o grupo das Compulsões: são comportamentos ou atos mentais que a pessoa se sente compelida a fazer, de forma repetitiva e ritualística, para aliviar ou neutralizar a ansiedade provocada pelas obsessões. As compulsões não são prazerosas, mas sim uma forma de evitar o sofrimento. 

Algumas compulsões mais comuns são:

• Lavar as mãos, tomar banho ou limpar objetos de forma excessiva ou demorada.
• Verificar, conferir ou contar coisas de forma repetida ou minuciosa.
• Arrumar, organizar ou alinhar objetos de forma precisa ou simétrica.
• Repetir palavras, frases, orações ou números mentalmente ou em voz alta.
• Acumular objetos inúteis ou sem valor.

Qual é o tratamento para a ansiedade?

Transtornos de ansiedade normalmente precisam de ajuda clínica, pois afetam a saúde física e mental da pessoa e interferem em sua qualidade de vida. A abordagem mais comum para o tratamento da ansiedade é a psicoterapia, especialmente aquelas orientadas nas linhas comportamentais e cognitivo-comportamentais (TCC).

A TCC, por exemplo, trabalha com as crenças disfuncionais da pessoa, que em parte são responsáveis pelos gatilhos da ansiedade. Essas crenças são pensamentos distorcidos ou irracionais que a pessoa tem sobre si mesma, sobre os outros ou sobre o mundo, e que geram emoções e comportamentos negativos. Alguns exemplos de crenças disfuncionais que podem aparecer em uma pessoa ansiosa são:

• Pensamento catastrófico: a tendência a imaginar o pior cenário possível ou a exagerar as consequências negativas de uma situação. Por exemplo: “Se eu não passar nessa prova, vou reprovar no curso, perder minha bolsa, decepcionar minha família e arruinar minha vida”.
• Perfeccionismo: a exigência de fazer tudo de forma impecável e sem erros, e a intolerância a qualquer falha ou crítica. Por exemplo: “Se eu não fizer um trabalho perfeito, vou ser considerado incompetente e ninguém vai me respeitar ou gostar de mim”.
• Leitura mental: a tendência a adivinhar o que os outros estão pensando ou sentindo, sem evidências ou confirmação. Por exemplo: “Ele não me cumprimentou hoje, deve estar bravo comigo ou não gosta mais de mim”.
• Raciocínio emocional: a tendência a confundir os sentimentos com os fatos, e acreditar que as emoções refletem a realidade. Por exemplo: “Eu me sinto um fracasso, logo eu sou um fracasso”.
• Deveria: a tendência a impor regras rígidas e inflexíveis sobre como as coisas deveriam ser, e a se sentir culpado ou frustrado quando elas não são cumpridas. Por exemplo: “Eu deveria ser sempre gentil e educado com as pessoas, se eu não for, eu sou uma pessoa ruim”.
• Rotulação: a tendência a atribuir rótulos negativos e definitivos a si mesmo, aos outros ou às situações, com base em erros ou falhas isoladas. Por exemplo: “Eu sou um idiota, ele é um canalha, isso é um desastre”.

Como funciona o tratamento dos Transtornos de Ansiedade?

O tratamento consiste em um trabalho em equipe entre paciente e terapeuta, para promover uma grande mudança no estilo de vida, desde a troca de hábitos para desenvolver hábitos mais saudáveis e protetivos, como o fortalecimento da resistência emocional, formas de lidar com pensamentos intrusivos e gestão de crises. 

Algumas das estratégias usadas na psicoterapia para tratar a ansiedade são:

• Reestruturação cognitiva: a identificação e a modificação das crenças disfuncionais, substituindo-as por pensamentos mais racionais, realistas e positivos.
• Exposição: a exposição gradual e controlada aos estímulos ou situações que provocam ansiedade, para que a pessoa possa enfrentá-los e superá-los, reduzindo seu medo e sua evitação.
• Relaxamento: o aprendizado e a prática de técnicas de relaxamento, como respiração profunda, meditação, mindfulness, etc., para reduzir o estresse e a tensão, e aumentar o bem-estar e a qualidade de vida.
• Treino de habilidades sociais: o desenvolvimento de habilidades de comunicação, assertividade, empatia, etc., para melhorar as relações interpessoais e a autoconfiança da pessoa.

Além da psicoterapia, em alguns casos, pode ser necessário também ter a introdução da medicação, que pode ajudar a aliviar os sintomas de ansiedade e a melhorar o funcionamento da pessoa. A medicação não cura a ansiedade, mas pode facilitar o processo terapêutico e a recuperação da pessoa.

Quando é necessário o uso de medicação para ansiedade?

Em psicologia e psiquiatria, não existe um padrão de normalidade que se aplique a todas as pessoas, mas sim uma avaliação de como os comportamentos e as respostas emocionais de cada pessoa se adaptam ao seu contexto e às suas necessidades. 

Por exemplo, ter uma crise de pânico ao ver uma nota baixa em uma disciplina na faculdade, ou ficar uma noite sem dormir porque terá uma reunião com o chefe no dia seguinte, são exemplos de comportamentos e respostas mal adaptados, que indicam um nível de ansiedade prejudicial à saúde e ao bem-estar.

O ponto para avaliar quando é necessário tratar ou não a ansiedade é quando os sintomas começam a interferir na rotina e na vida da pessoa, causando sofrimento, limitação, prejuízo ou risco. Nesses casos, a pessoa deve procurar ajuda profissional, que pode envolver tanto a psicoterapia quanto a medicação, dependendo da gravidade e da origem da ansiedade.

A medicação é indicada quando se identifica que, além de falta de repertório (aquelas habilidades faladas no tópico sobre a terapia), também existe uma carência de alguma resposta neurológica, ou seja, um desequilíbrio químico no cérebro, que afeta a produção ou a ação de neurotransmissores relacionados à ansiedade, como a serotonina, a noradrenalina e o GABA. 

A medicação pode ajudar a regular esses neurotransmissores, reduzindo os sintomas de ansiedade e melhorando o funcionamento da pessoa. O que, em consequência, aumentará a aderência à terapia e permitirá que o treino feito durante as consultas com o psicólogo sejam mais eficientes.

Quem pode prescrever essa medicação é apenas um médico psiquiatra, de preferência com RQE (Registro de Qualificação de Especialista), que é um documento que comprova a formação e a capacitação do profissional para atuar na área. O psiquiatra é o responsável por avaliar o caso, escolher o medicamento mais adequado, orientar sobre a dosagem, a duração e os cuidados com o tratamento, e acompanhar os resultados e os efeitos colaterais.

A medicação normalmente tem pouco ou nenhum efeito adverso, e apenas em raros casos acontece alguma reação desconfortável por mais do que uma semana. Os efeitos colaterais mais comuns são sonolência, náusea, boca seca, dor de cabeça, alteração de peso, diminuição da libido, etc. 

Esses efeitos tendem a diminuir ou desaparecer com o tempo, conforme o organismo se adapta ao medicamento. A medicação leva, em média, duas semanas para iniciar sua ação, e pode demorar alguns meses para alcançar o efeito máximo. Por isso, é importante seguir as orientações do médico, não interromper ou alterar o tratamento sem sua autorização, e não se automedicar ou compartilhar o medicamento com outras pessoas.

As principais classes de medicação usadas para o tratamento da ansiedade são:

Antidepressivos

São medicamentos que atuam sobre os neurotransmissores serotonina e noradrenalina, que estão envolvidos na regulação do humor, da ansiedade e do estresse. 

Os antidepressivos mais usados para a ansiedade são os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), como a fluoxetina, a sertralina e o escitalopram, e os inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSN), como a venlafaxina e duloxetina. 

Esses medicamentos podem ser usados para tratar vários tipos de Transtornos de Ansiedade, como o Transtorno de Ansiedade generalizada, o transtorno de pânico, o transtorno de estresse pós-traumático, o Transtorno de Ansiedade social, etc.

Betabloqueadores

São medicamentos que atuam sobre os receptores beta-adrenérgicos, que são responsáveis pela resposta de luta ou fuga do organismo. Os betabloqueadores podem bloquear os efeitos da adrenalina, como o aumento da frequência cardíaca, da pressão arterial e da sudorese, entre outros, que são sintomas físicos da ansiedade. 

Os betabloqueadores mais usados para a ansiedade são o propranolol e o atenolol. Esses medicamentos podem ser usados para tratar situações específicas de ansiedade, como fobias, ataques de pânico ou ansiedade de desempenho.

Benzodiazepínicos

São medicamentos que atuam sobre os receptores GABA, que são responsáveis pela inibição da atividade nervosa. Os benzodiazepínicos podem aumentar a ação do GABA, produzindo efeitos de relaxamento, sedação, ansiólise e anticonvulsivante. 

Os benzodiazepínicos mais usados para a ansiedade são o diazepam, clonazepam (o famoso Rivotril),  alprazolam, lorazepam, etc. Esses medicamentos podem ser usados para tratar casos de ansiedade aguda, severa ou resistente a outros tratamentos, mas devem ser usados com cautela, pois podem causar dependência, tolerância, abstinência e efeitos cognitivos adversos.

A principal função dos benzodiazepínicos é “apagar o incêndio” quando tudo já está pegando fogo, mas de forma alguma eles podem ser usados como único tratamento a longo prazo.

A ansiedade pode ser curada?

A ansiedade é um sinalizador biológico do nosso corpo, um sistema de alarmes que nos avisa que existe algum perigo ou algo que deveríamos ter atenção. O problema é quando essa ansiedade se torna patológica, ou seja, começa a “disparar” os sinais sem ameaça real ou tendo reações muito intensas para coisas que poderiam ser mais sutis. Nesses casos, a ansiedade deixa de ser uma aliada e passa a ser uma inimiga, que prejudica nossa saúde física e mental.

A psicoterapia ajuda a pessoa a lidar com a ansiedade patológica, colocá-la em um nível saudável e fazer a gestão dela por meio da regulação emocional. A psicoterapia é um processo de autoconhecimento, mudança e crescimento, que envolve a identificação e a modificação dos fatores que causam ou mantêm a ansiedade, como as crenças disfuncionais, os hábitos nocivos, situações estressantes, etc. A psicoterapia também ensina a pessoa a desenvolver habilidades para enfrentar e superar os desafios da vida, como a resiliência, autoestima, assertividade, dentre outras.

Querer viver completamente sem ansiedade seria o equivalente a querer morar em um prédio sem alarme de incêndio e extintores — o alarme não é um problema, quando ele está desconfigurado e ativa o tempo todo é que precisamos ajustá-lo, mas é sempre melhor tê-lo do que viver sem ele. 

A ansiedade é uma emoção natural e necessária, que nos ajuda a nos preparar e a reagir diante das situações da vida. O que precisamos é aprender a gerir nossa ansiedade sem tanto sofrimento, fazendo dela um alarme realmente funcional e importante.

E o primeiro passo para isso é marcar uma consulta de psicoterapia. Comigo você pode fazer esse processo agora mesmo, 100% online. Quer entender como trabalho e como são as consultas? Clique aqui e me chame no WhatsApp!