Sociedade, Família, Autoestima e Autoaceitação LGBTI+

atuaceitação LGBTI+

De acordo com o dicionário Priberam, autoestima é o “apreço ou valorização que uma pessoa confere a si própria, permitindo lhe ter confiança nos próprios atos e pensamentos”. Essa é uma definição bem coerente, ela conversa com o que a grande maioria das pessoas se identificam. 

Entretanto, temos uma percepção de que a autoestima é algo que as pessoas sentem, mas nunca nos perguntamos sobre a sua origem. O que constrói a autoestima de uma pessoa? Neste texto abordaremos o tema fazendo um recorte específico sobre as pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transsexuais, Iterssexuais (LGBTI+) e os impactos familiares e socioculturais na autoestima dessas pessoas. 

Se interessou pelo tema? Então, nos acompanhe nessa discussão!

Autoestima e Psicologia

Quando falamos de sentimentos como a autoestima, para a Psicologia moderna, estamos falando de algo que é aprendido. Esse aprendizado acontece sob grande influência das relações que estabelecemos ao longo da vida como contexto social. Ou seja,  por meio de acasos e situações que, na maioria das vezes, não foram planejadas.

A autoestima é um sentimento muito importante para o desenvolvimento pessoal e, inclusive, é um fator determinante para ter vida saudável, bem como nutrir a boa saúde mental. Podemos dizer que é um dos sentimentos associados à felicidade das pessoas, já que pode afetar seu desempenho em diversas áreas da vida e sua percepção, ou avaliação, das situações.

Enquanto a falta desse sentimento (baixa autoestima) nos leva a vermos o mundo por um viés mais negativo, desacreditando de nossas habilidades, forças e conhecimentos, a autoestima saudável permite que nos aceitemos, entendamos nossos limites, mas também saibamos de nossas qualidades. Isso é necessário para conhecer a si mesmo e se sentir bem em sua própria pele.

Sociedade e cultura

Pensando especificamente sobre a população LGBTI+ termos uma especificidade. Podemos dizer que todas as pessoas estão inseridas em uma mesma cultura, correto? 

Ela determina o que é moral e imoral, certo e errado. O problema é que essas delimitações afetam de forma diferente cada membro da população a depender da sua identidade de gênero (homens hetero enfrentam o problema A, mulheres bi precisam lidar com B, homens gays têm que lidar com C e assim por diante).

Partindo de um ponto de vista excludente e generalista, é possível afirmar que ainda vivemos em uma sociedade que carrega preconceitos em relação às pessoas LGBTI+. Eles são sustentados naquilo que a cultura define como certo, errado, moral e imoral. 

Em uma cultura machista e cisheteronormativa (que vê como correta a heterossexualidade e a identificação de gênero com o sexo do nascimento) são aprovadas aquelas atitudes, expressões e maneiras de vivenciar a sexualidade e o gênero que são coerentes com as “regras” existentes.

Em contrapartida, o que foge a regra é desaprovado culturalmente, considerado errado e imoral, e, portanto, é preciso que seja modificado, punido, curado, convertido e por aí vai. Por esses motivos, pessoas LGBTI+ são discriminadas, tendo como justificativa crenças e regras culturais que nem sempre estão certas.

Isso prejudica o convívio entre as pessoas e o desenvolvimento de uma sociedade mais livre e humana para todo mundo. Tudo em prol de argumentações vazias, como: “família é homem, mulher e filhos”.

Autoestima uma história de aprendizado 

Porque isso é tão importante? A resposta é simples: a autoestima não é um sentimento que surge espontaneamente, de maneira imprevisível, incontrolável Ela não é algo que uma pessoa possui, como se fosse um objeto que você tem ou não.

Eu diria, de maneira simplificada, que a autoestima é um estado no qual a pessoa se encontra e se aceita. Por ser um estado, ela pode ser alterada ao longo da vida. A autoestima é influenciada por determinantes externos, isto é, coisas que acontecem fora da sua própria mente. 

Em outras palavras, a autoestima oscila dependendo do comportamento da pessoa e do contexto social ao qual ela é exposta ao longo da vida. Logo, a família, os amigos, a conversa com o professor em sala de aula, os programas de tv e as notícias que aparecem no jornal influenciam na forma como a sua autoestima poderá se manifestar.

Se pensarmos na autoestima dessa forma, fica mais fácil entendermos como o contexto social interfere no desenvolvimento saudável das pessoas LGBTI+.

A história de vida das pessoas dessa população é marcada por vivências de preconceitos e discriminação. A sociedade na qual vivemos diz que fazer parte do grupo LGBTI+ é errado. Algumas religiões pregam que qualquer comportamento, exceto o heterossexual e cis, é pecaminoso e passível de punição.

As famílias, também imersas nessa cultura, excluem e expulsam de casa seus filhos, sobrinhos e netos LGBTI+. Pelas ruas, as pessoas que pertencem a essa população marginalizada ouvem comentários desagradáveis. 

Somado a isso, sempre existe o risco, também, de ataques de raiva e preconceito que culminam em agressões físicas. As pessoas LGBTI+ precisam lidar também com os modelos de relacionamento que são valorizados em nossa sociedade (homem e mulher). 

Todos esses detalhes incidem sobre a autoestima e interferem na percepção que a pessoa tem de si mesma e na aceitação com relação à própria sexualidade e identidade de gênero.

Como acontece?

Para que essa ideia fique mais clara, que tal olharmos alguns exemplos comuns de como a autoestima LGBTI+ é construída (ou destruída) em nossa sociedade? Acompanhe!

[EXEMPLO 01] Nos programas de TV, filmes e séries sempre vemos casais heterossexuais convivendo abertamente com suas famílias. A ausência de casais homossexuais mostra que essa forma de amor não é natural, o que acaba invalidando esse comportamento.

EXEMPLO 02] Quando uma criança do sexo masculino brinca de boneca na infância, é esperado que seu pai o repreenda, dizendo: “Menino não brinca de boneca! Vira homem rapaz! Estou decepcionado com você”. Essa situação dita um padrão específico de comportamento esperado para o filho. O pai pune o comportamento “desviante” e mostra que existe uma perda de afeto a depender do que o filho faz (aqui, o afeto acontece como relação de troca).

[EXEMPLO 03] Ao ver o filho acompanhado de várias garotas, o pai diz: “Adorei te ver saindo com as meninas da escola hoje filho, você vai ser pegador igual ao papai”. Entretanto, as garotas eram amigas do rapaz e estavam indo ao shopping escolher juntos o vestido da festa de 15 anos. Esse comentário do pai parte da suposição de que a orientação sexual do filho é heterossexual. Ele valoriza isso e estabelesce um padrão de desempenho seuxual para o filho.

É possível citar uma série de outros exemplos, como a valorização da forma de se vestir, o tom de voz e outras características que não combinam com o que é definido como um “comportamento masculino”.

Ou seja, ao longo de sua vida, quem se identifica como LGBTI+ sofre constantemente com repreensões, invalidações, distanciamento da pessoas, críticas e punições por ser quem ela é, por estar sendo autêntica e sincera consigo mesma. 

Assim, podemos dizer que pessoas LGBTI+ estão crescendo e vivendo em ambientes sociais desfavoráveis para um bom desenvolvimento da sua autoestima.

Como mudar essa situação?

Para um bom desenvolvimento da autoestima precisamos de contextos nos quais as pessoas recebam, na maior parte do tempo, uma atenção positiva incondicional. Em outras palavras, recebam carinho, afeto, sorriso, validação, elogio, afago físico e gratificações, independentemente de  como a pessoa é ou qual é a maneira como ela se comporta.

Assim, o importante não é se o que essa pessoa faz é “bom” ou “correto” para a manutenção de questões culturais. Pelo contrário, o ideal é não usar uma régua moral em suas percepções, mas sim ver o que é espontâneo e satisfatório para o outro, acolher e validar isso. Esse seria um contexto favorável para o desenvolvimento de uma boa autoestima.

Assim, se refizermos os exemplos acima com essa linha de pensamento, as situações ficariam mais ou menos assim:

[EXEMPLO 01] Os programas de TV, filmes e séries sempre com casais heterossexuais e homossexuais convivendo abertamente com suas famílias. Isso mostraria a existência e possibilidade de se ter um relacionamento homossexual saudável e com boa convivência familiar.

[EXEMPLO 02] Ao ver uma criança do sexo masculino brincando de boneca na infância, o pai poderia comentar algo como:“Nossa filho, o papai na infância não brincava de boneca, já que você gosta vou comprar uma para você”. Depois, abraçaria o filho e diria: “O papai te ama do jeito que você é”. Essa atitude Válida algo que é importante para o filho e fornece afeto independentemente do fato de o filho estar brincando com algo que o pai nunca brincou.

[EXEMPLO 03] Quando o pai observar o filho saindo da escola com várias garotas, ele poderia dizer: “Adorei te ver saindo com as meninas da escola hoje filho, que bom que você tem muitas amigas, me parece que você é um bom amigo para elas”. Isso não pré estabelece uma orientação sexual para o filho e o valoriza como pessoa.

Autoestima X Auto aceitação

Os contextos nos quais a grande maioria das pessoas LGBTI+ estão expostas são contextos semelhantes aos que descrevi até agora.  Por isso, essas pessoas apresentam maior probabilidade de ter uma baixa autoestima e uma possível dificuldade em se auto aceitar. 

Uma vez que passam por uma série de situações que invalidam suas identidades e características pessoais, espontâneas e autênticas, essas pessoas aprendem que não é positivo serem quem são.

Dessa forma, elas mudam seu comportamento e passam a agir como as outras pessoas gostariam que elas agissem. O resultado é óbvio: os LGBTI+ que fazem isso recebem afeto.

Assim, temos dois lados da mesma moeda: quando a pessoa age da forma como ela realmente é, ela acaba sendo punida. Por outro lado, quando ela finge ser o que não é, os outros a reconhecem e a valorizam.

Agora, se essas pessoas crescessem e vivessem nos exemplos “ideais” que falei acima,, elas provavelmente desenvolveriam uma boa autoestima e autoaceitação, já que estariam sendo expostas a um ambiente que as valoriza como são. 

O principal ingrediente para o florescimento da boa autoestima é a validação e reconhecimento da pessoa como um todo. Nossa sociedade faz exatamente o oposto e as pessoas LGBTI+ são expostas a essas punições como críticas, retaliações, invalidações desde a sua infância.

Desse modo, desde o início da sua formação como pessoa, os LGBTI+ só são valorizados quando se comportam de uma forma específica (o comportamento cisgênero e heterossexual). Além disso, sempre que apresentam os comportamentos “errados” (comportamentos próprios da comunidade LGBTI+) eles são punidos.

REconstruindo a autoestima

Como disse anteriormente, a boa notícia é que a autoestima é um sentimento que está diretamente ligado a nossa história de vida. Graças a ela aprendemos a depender dos contextos aos quais fomos expostos. Partindo desse princípio, existem alguns caminhos, que, inclusive, trabalhamos no processo de psicoterapia com pessoas LGBTI+, para mudar essa situação

Uma pergunta interessante de se fazer a pessoas LGBTI+ é se elas sentem orgulho de ser quem são. Isso pode dizer muito sobre a autoestima de pessoas LGBTI+. Conquistar o famoso orgulho gay não é fácil, principalmente se considerarmos o contexto no qual vivemos. 

Pessoas LGBTI+ crescem e aprendem, com suas experiências, que o amor e afeto  depende de algumas condições. Mesmo sem querer, ou perceber, elas vão tentando, ao longo da vida, atender a essas condições.

Mas essa solução funciona?

O problema é que ser LGBTI+ já é, em alguns casos, não corresponder a uma série de condições esperadas por familiares e pela sociedade. Isso gera um conflito e a pessoa precisa escolher entre ser amada ou ser ela mesma.

Então, a questão é que aprendemos a amar a partir dos exemplos que nos foram passados ao longo da vida. Assim, se pessoas LGBTI+ são acolhidas, amadas e aceitas só se corresponderem a um determinado padrão de comportamento, elas passam a entender que não valem nada e por isso precisam ser/agir como se fossem outra coisa (aqui, vemos a autoestima sendo destruída).

É triste ver isso acontecer, afinal somos todos dignos de amor, acolhimento e aceitação independentemente de qualquer coisa.

Então, o que pode ser feito?

O resgate dessa autoestima e autoaceitação passa, então, por uma modificação da história de vida a partir do ponto no qual a pessoa se encontra. Para isso é preciso então alterar os contextos nos quais ela vive.

Vejamos algumas formas de fazer isso!

[FORMA 01] É preciso que a pessoa LGBTI+ esteja em relações em que as pessoas a acolham e aceitem como ela é. Uma boa maneira de fazer isso é incentivar essa pessoa a fazer amizades com outras pessoas LGBTI+ e frequentar ambientes específicos para o público.

[FORMA 02] Representatividade importa. Assim, é importante que ela tenha referência de pessoas LGBTI+ que são bem sucedidas profissionalmente, emocionalmente, que estão em bons relacionamentos e que possuem suas famílias. Isso ajuda a mostrar que essas coisas também são possíveis, o que gera uma experiência positiva como LGBTI+, algo que a sociedade, na grande maioria das vezes, não fornece.

[FORMA 03] Ser acolhida incondicionalmente por parentes próximos e colegas de trabalho são atitudes que validam quem a pessoa é em sua integridade.

São várias as formas de  auxiliar no desenvolvimento desses sentimentos de autoestima, autoamor e autoaceitação. O ponto principal é que pessoas que se sentem amadas pelos outros, sem ter que responder a certas condições para isso, aprendem a amar a si mesmas.

Precisamos refletir muito sobre como nossa sociedade ama e acolhe as pessoas em suas diversidades de características, sexualidade, gênero e estilos, pois a população LGBTI+ possui altos índices de baixa autoestima, depressão e suicídio. Não há dúvidas que esses dados refletem um ambiente invalidante que não proporciona sentimentos positivos.

Por isso, precisamos aprender a acolher as pessoas como elas são, mostrando que seu comportamento é positivo e adequado. Devemos aprender a amar incondicionalmente.

Quando tivermos uma sociedade que fale sobre os pontos positivos de ser LGBTI+ e valide a cultura, e as características dessas pessoas, a saúde emocional dessa população vai melhorar, porque aí, sim, elas se sentirão abraçadas e verdadeiramente compreendidas — e essa é a base para uma boa autoestima.

Se você se identifica como uma pessoa LGBTI+ e precisa conversar sobre o assunto com algum profissional, sinta-se livre para entrar em contato comigo. Basta clicar aqui e me enviar uma mensagem!

Oi! Meu nome é Fábio Iannini. Sou Psicólogo clínico e trabalho com Psicoterapia Analítico Comportamental. Tenho experiência com atendimentos presenciais e online. Considero que estar no “consultório” em contato com as mais diversas histórias de vida e poder auxiliar as pessoas nos seus incríveis processos de superação, crescimento e desenvolvimento pessoal é um privilégio. Movido pela crença de que a autenticidade é o meio mais eficaz para se alcançar a felicidade, é com muito carinho e cheio de energia que sigo acreditando nas possibilidades humanas. Se você possui algum obstáculo na sua vida particular que você está tentando superar ou quer se tornar a sua melhor versão, Conte comigo! Vamos juntos trabalhar as proporções e desenvolver autoconhecimento para temperarmos a vida ao seu gosto, ampliando assim os seus significados e satisfações em prol de uma vida que valha a pena ser vivida! Caso queira marcar uma consulta comigo, clique aqui!

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