Casas de apostas online, casas de bet, apostas esportivas, “jogo do tigrinho” e “jogo do aviãozinho” são alguns dos nomes que vem se popularizando no Brasil. Todos são formas diferentes de falar sobre um mesmo negócio: os casinos online.
Se antes era necessário viajar até Las Vegas para participar de um jogo de azar, ou encontrar uma casa escondida onde acontece o jogo do bicho, agora a solução é muito mais simples. A cada dia o modelo de apostas online ganha alcance no Brasil e o número de jogadores ativos têm aumentado significativamente.
A consequência disso é óbvia: um aumento nos casos de ludopatia (vício em jogos de azar). Por isso, hoje explicarei esse fenômeno e o que pode ser feito, tudo pelo olhar da psicologia.
Índice
- Por que as casas de apostas online fazem tanto sucesso?
- Quais são os riscos financeiros e psicológicos das casas de apostas?
- Como alguém fica viciado em apostas online (casas de bet)?
- Quais são os sinais de vício em apostas online (ludopatia)?
- Importância da regulamentação e o risco dos jogos de apostas
- Qual é a hora de procurar tratamento para vício em apostas esportivas?
Por que as casas de apostas online fazem tanto sucesso?
Com a possibilidade de ter aplicativos de “bet” no celular, é cada vez mais fácil a entrada no mundo das apostas esportivas e jogos de azar. Basta fazer o download de um aplicativo, realizar uma transferência por PIX e pronto, em segundos você pode começar a “testar sua sorte”.
Essa facilidade foi a porta de entrada para a explosão de apostas que hoje acontece no Brasil. Depois desse contato inicial a coisa é ainda mais simples, basta deixar que os apps façam seu trabalho para cativar os jogadores.
O vício em apostas e jogos de azar não acontece ao acaso. Existem vários sentimentos e sensações envolvidas no ato de apostar, aguardar o resultado e então ver a vitória ou derrota ao final da rodada.
Uma parte importantíssima do nosso cérebro está envolvida nesse processo, o Sistema Dopaminérgico Mesolímbico. Além de outras coisas, ele é responsável pela expressão de alguns sentimentos bastante intensos, como euforia e prazer.
Quando jogamos, inevitavelmente vamos sentir uma excitação, um tipo de agitação, e começaremos a ter um aumento de adrenalina por conta do risco envolvido. Quando ganhamos a explosão de sentimentos positivos e alívio é imensa, e quando perdemos o sentimento negativo nos leva a jogar mais.
Esse prazer associado à facilidade de ter uma casa de apostas no celular, o uso de dinheiro digital e de poder fazer apostas esportivas em eventos sociais — como quando as pessoas apostam durante um jogo de futebol no bar com amigos — é a receita perfeita para aumentar o número de jogadores regulares.
Quais são os riscos financeiros e psicológicos das casas de apostas?
Sei que para muitas pessoas “bets” online são um passatempo inocente, uma diversão entre amigos sem grandes danos. Mas existe um risco associado a elas, assim como no caso do álcool, cigarro, cannabis e qualquer outra coisa que gere um grande prazer em um curto período de tempo.
Tudo bem se você quiser jogar, e logo mais falarei de como se proteger para evitar problemas com esse “hobbie”, se é que podemos chamar assim. Mas antes gostaria de falar sobre alguns riscos envolvidos nessa prática.
Riscos financeiros
Seu bolso é um dos principais afetados pelos jogos de azar, apostas esportivas e demais jogos de cassino, como o “jogo do tigrinho” e “jogo do aviãozinho”.
Vício: como você deve imaginar, o primeiro e principal problema que precisamos levantar é o risco de vício. Jogos são altamente viciantes e tornam as pessoas dependentes em um intervalo curto de tempo. Em poucos meses o jogador compulsivo pode já não ser capaz de parar sozinho e tende a se ver cercado por dificuldades financeiras imensas.
Perdas: por mais que pareça que os jogos são justos, todo sistema de apostas é feito para beneficiar a casa. Repita comigo: “A BANCA SEMPRE VENCE”.
Compensação de perdas: daqui a pouco falaremos mais sobre esse ponto, mas por hora é fundamental que você entenda que perder nas apostas e jogos de azar não é o suficiente. Ao se deparar com a derrota existe uma tendência da pessoa tentar recuperar o dinheiro, o que normalmente a leva a perdas ainda maiores.
Impactos na vida financeira: dívidas, perda de trabalho, problemas no relacionamento e comportamentos de risco para a manutenção do vício (como usar o serviço de agiotagem) são algumas das possíveis consequências de quem fica preso no mundo das apostas e jogos de azar online.
Riscos psicológicos
Além das questões financeiras envolvidas, nossa parte cognitiva e emocional também sofre com o excesso de tempo dedicado aos cassinos e sites de apostas online.
Ansiedade e estresse: apostar é uma atividade estressante. Enquanto seu dinheiro está em jogo é natural que você se sinta tenso e considere a possibilidade de perder. Além disso, ainda existe a ansiedade e o estresse associados à falta de controle quando deixa de ser uma simples aposta e se torna uma ludopatia.
Depressão: à medida que “entramos de cabeça” nas apostas tendemos a nos afastar de trabalhos, ciclo de amigos e relacionamentos amorosos. É natural que o jogador se sinta envergonhado pelo seu comportamento, e por isso não conta com uma rede de apoio. Esse comportamento evasivo em conjunto com a alta ansiedade pode desencadear um quadro depressivo grave.
Ideações suicidas: em casos mais extremos, a dependência dos jogos de azar e apostas online pode levar a grandes estados de sofrimento e sensação de “não ter mais saída”. Nesse ponto, ideações suicidas e tentativas de atentar contra a própria vida são um risco real.
Abuso de substâncias: existe uma forte correlação entre ludopatia e abuso de álcool e nicotina. Diante dos sentimentos negativos da perda de dinheiro, é natural buscar um alívio das emoções e ambas as substâncias conseguem proporcionar isso a um custo altíssimo, como a dependência química.
Outros riscos a considerar
Existem mais dois pontos que gostaria de chamar sua atenção.
Danos sociais: algumas consequências negativas de jogar consecutivamente são a perda de relações sociais de todos os tipos (amorosas, familiares, acadêmicas, profissionais e amistosas), bem como o aumento do risco de cometimento de crimes, como pequenos furtos e golpes financeiros.
Estratégias de marketing e falta de informação: as casas de bet usam uma série de artifícios para atrair, reter e dar uma falsa sensação ao jogador de que ele pode enriquecer apostando. Alguns exemplos disso são:
- dobrar a quantidade de dinheiro da primeira transferência, instigando as pessoas a colocarem valores mais altos do que fariam normalmente;
- permitir a retirada do dinheiro apenas após o valor ser o dobro do transferido inicialmente;
- uso de influenciadores fingindo usar a plataforma de apostas e fingindo ganhar prêmios milionários em segundos;
- uso de influenciadores tendo uma vida de luxo enquanto mostram que estão jogando (usando o celular com o jogo enquanto está em uma piscina com um carro esportivo parado ao lado, por exemplo).
- permitir ganhos elevados nas primeiras jogadas e à medida que o jogador passa a investir mais tempo na plataforma as derrotas se acumulam e superam os resultados positivos.
- apostas “promocionais” com ganhos mais elevados que normalmente para estimular o investimento de mais dinheiro em cada jogada.
Como alguém fica viciado em apostas online (casas de bet)?
Se você já acompanha os artigos aqui no blog, o que vou falar não é novidade nenhuma, mas nunca custa repetir: sempre que analisamos o comportamento de alguém temos que lembrar que tudo é fruto de aprendizado e de uma tríplice que envolve características psicológicas, biológicas e sociais.
Por isso dizemos que todo comportamento é multideterminado e não é possível apontar uma única causa para a nossa forma de agir. Em vez disso, precisamos pensar em fatores que influenciam nosso comportamento para o lado A ou B e de que maneira esses fatores interagem.
Um exemplo simples: imagine que eu viva em uma família que tem por hábito o abuso de álcool. Se esse fosse o único elemento disponível, a probabilidade de desenvolver um quadro de alcoolismo seria imenso. Mas… e se minha parceira não bebe? E se meus amigos são contra o consumo de álcool? E se eu nunca tivesse bebido? Aí o resultado pode ser diferente.
Então, enquanto lê os próximos trechos deste texto tenha isso em mente: cada coisa que eu falar é uma peça do grande quebra-cabeças chamado comportamento humano. Apenas uma delas nunca te dará a visão do todo.
Fatores psicológicos envolvidos no vício em apostas esportivas e jogos de azar
O processo de aprendizado de cada um dos nossos comportamentos é extremamente complexo. Mas não seria errado dizer que uma parte da maneira como aprendemos é decorrente da consequência de nossas ações.
O principal elemento envolvido em qualquer vício é justamente esse, o aprendizado. Quando entramos em uma casa de apostas estamos propensos a participar de um jogo, ainda sem grandes expectativas. Ao jogar sentimos emoções intensas, muitas delas positivas, como o prazer de ganhar.
Esse processo ensina ao nosso cérebro que jogar é algo prazeroso, e quanto mais ganhamos, mais essa informação fica fixa. Aos poucos vamos aprendendo que jogar é igual a sentir prazer, o que por sua vez é igual a não ficar triste, deprimido ou outros estados negativos.
“Ah, então porque quem perde não para de jogar”? Porque curiosamente, o sentimento positivo pela vitória é mais intenso que o negativo da derrota. Basta saber que é possível ganhar para ignorar esse sentimento e tentar jogar mais uma vez.
Fato curioso: se você ganhasse em 100% das vezes que jogasse a probabilidade de um vício acontecer seria muito menor. A intermitência, ou seja, ganhar às vezes e perder às vezes, é o que aumenta a frequência do nosso comportamento.
É quase como se houvesse uma voz na nossa cabeça dizendo: “você perdeu agora, mas já ganhou antes. Se continuar jogando vai ganhar”. E assim vamos aumentando mais e mais as vezes que apostamos.
Somado a isso, ainda existe uma linha de pensamento que diz mais ou menos assim: “vou apostar X, se perder tudo bem”. Quando perco vem um segundo pensamento: “vou jogar só mais uma para recuperar o que perdi”. Ao perder mais uma vez o pensamento se mantém: “preciso recuperar o que coloquei a mais, não era para gastar tanto”.
O que nos faz ter um vício em jogo é justamente essa experiência cíclica que as casas de aposta nos oferecem:
Fatores de risco
Além do aprendizado, alguns outros fatores influenciam o processo de vício. Cada um deles tem uma contribuição importante no nosso comportamento.
Exposição a jogos de azar: crianças e adolescentes expostas a jogos de azar tendem a ter maior risco de desenvolverem esse vício na juventude ou na vida adulta.
Falta de suporte social: a falta de círculos de amizades saudáveis, relacionamentos estáveis e bons laços sociais leva a pessoa a passar mais tempo sozinha, desenvolver mais sentimentos de solidão e isolamento e aumenta o risco de ela desenvolver um comportamento de compulsão ao experimentar jogos de azar.
Perfil de personalidade: pessoas com tendências mais ansiosas e/ou impulsivas, bem como aquelas que apresentam uma dependência de emoções fortes, tem um risco aumentado de desenvolver a ludopatia.
Estratégias de enfrentamento: quem utiliza os jogos como uma forma de esquecer os problemas e as emoções negativas corre um sério risco de depender dessa “ferramenta” sempre que houver uma oscilação de humor, acarretando a longo prazo em um vício.
Questões relacionadas à saúde mental: alguns quadros clínicos são mais suscetíveis ao abuso de comportamentos que geram prazer ou aliviam sentimentos negativos. É o caso de alguns Transtornos de Personalidade (como o Transtorno de Personalidade Borderline), Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), Transtornos do Humor (Transtorno Afetivo Bipolar e Depressivos em geral) e Transtornos de Ansiedade.
Fontes de prazer escassas: pessoas que dependem exclusivamente dos jogos de azar ou apostas esportivas para ter picos de prazer têm uma maior tendência a desenvolver uma dependência dessas plataformas de aposta.
Fatores genéticos relacionados à compulsão em jogos de azar e apostas
Quando falamos da relação entre genética e comportamento fica um pouco mais difícil estabelecer paralelismos diretos, já que tudo o que vemos pode ser fruto de aprendizado, influência social ou alguma questão efetivamente genética.
Nesse caso, podemos levantar alguns fatores para se ter cuidado, já que a expressão do nosso gene vem acompanhada de: semelhanças nas estruturas do cérebro entre descendentes e genitores (você e seu pai, por exemplo), questões relativas a maturação do cérebro (desenvolvimento ou não de Transtornos do Aprendizado, por exemplo), velocidade de raciocínio, tipos de inteligência etc.
Assim, é interessante tomar cuidado com alguns sinalizadores que podem ajudar a avaliar o risco em função do comportamento de genitores ou ascendentes (avós, por exemplo).
Histórico de transtornos mentais na família: existe uma relação bastante comum entre genética e alguns transtornos mentais. Caso tenha a manifestação de algum quadro assim na família, é importante ficar atento aos sinais e riscos associados nos descendentes (você, seus filhos etc.).
Histórico de comportamentos compulsivos: quando a família apresenta um padrão compulsivo de agir (fuma muito, bebe muito, joga muito etc.) é um sinalizador importante de estratégias de enfrentamento pouco saudáveis.
Histórico de impulsividade: núcleos familiares impulsivos tendem a gerar descendentes igualmente impulsivos. Alguns exemplos seriam gastar mais do que deveria, comer mais do que gostaria, não conseguir esperar os outros terminarem de falar. Esses comportamentos chamam a atenção para um controle inibitório precário nesse grupo familiar.
Fatores sociais relacionados ao vício em bets e jogos de azar
Por fim, mas não menos importante, existem os elementos socioculturais que interferem na maneira como vemos e interagimos com os jogos de azar e as apostas esportivas. Querendo ou não, a cultura que estamos inseridas é determinante em uma série de comportamentos que adquirimos — por exemplo: você só toma banho todos os dias porque é brasileiro.
Estilo de vida: ambientes nos quais jogar é uma atividade comum faz com que as pessoas sejam expostas a esse estímulo com frequência, além de não ver um grande problema em jogar regularmente.
Valorização da riqueza: culturas nas quais o sucesso é avaliado com base na riqueza conquista fazem um estímulo por “fórmulas mágicas para enriquecer”, e as apostas, tal qual a investimentos financeiros, são vistos como uma alternativa para “cortar caminho” e alcançar o tão aclamado sucesso.
Pressão de amigos: em alguns grupos de conhecidos e amigos, especialmente nos masculinos, pode existir uma constante pressão para que as pessoas tenham comportamentos de risco, como beber ou jogar. Não participar dessas práticas pode significar a exclusão do grupo.
Percepção social sobre jogos: culturas nas quais os jogos são valorizados e a participação das pessoas é estimulada tendem a apresentar mais pessoas com compulsões por apostas que em outros espaços. Enquanto a média de ludopatia nos Estados Unidos é de 1% a 3% em média, na cidade de Las Vegas a prevalência gira em torno de 8,7% da população adulta.
Quais são os sinais de vício em apostas online (ludopatia)?
Existem diversos sinais de que uma pessoa está apresentando uma dependência das apostas esportivas ou jogos de azar. Falarei um pouco sobre cada um desses pontos, mas antes precisamos focar no mais importante: o descontrole sobre o comportamento de apostar.
Esse descontrole pode ser dividido em três níveis. No primeiro nível é a presença de um comportamento saudável, no segundo é um alerta importante, no terceiro já é uma sinalização forte de que o vício está presente.
- 1° nível (Controle total): a pessoa consegue regular seu comportamento sem muito esforço, joga quando planeja e para assim que quer;
- 2° nível (Controle intermediário): ainda é possível controlar o comportamento de apostar, mas exige bastante esforço e um alto gasto de energia para evitar uma reincidência;
- 3° nível (Falta de controle): no terceiro nível a pessoa não consegue mais controlar seu comportamento, jogar se tornou um hábito e a interrupção da ação depende de elementos externos, como a falta de dinheiro e a impossibilidade de conseguir mais.
Outros sinais de vício em apostas esportivas e cassinos online
Além dos três níveis de controle em relação ao objeto do vício, também temos outros sinais importantíssimos que nos mostram se alguém consegue lidar com os jogos ou se já se tornou uma ludopatia.
Necessidade de apostar: a necessidade de se manter jogando cresce com o tempo, é como se a pessoa precisasse de cada vez “doses mais altas” para se satisfazer. Isso envolve tanto a frequência quanto o valor apostado, que cresce na mesma proporção.
Alterações de humor na ausência do jogo: quando tenta parar de jogar a pessoa começa a experimentar um mix de sensações negativas, como agitação, tédio e um aumento significativo da irritabilidade. É como se retirássemos o que mantinha o humor dela estabilizado.
Falha na tentativa de controlar as apostas: mesmo tentando parar de apostar, a pessoa se vê repetidamente fracassando e voltando a repetir o hábito. Querer parar não é mais uma simples questão de força de vontade, mesmo se esforçando a pessoa “escorrega” e volta a repetir seu comportamento de apostar.
Pensamento focado nas apostas: a vida da pessoa gira em torno das apostas. Ela pensa nisso com frequência e sempre está planejando sobre quando e como jogará novamente, que estratégia usará, quanto gastará e vários outros detalhes sobre a execução do hábito.
Sentimentos negativos ao tentar sentir prazer: os jogos de azar e apostas esportivas proporcionam emoções intensas. Assim, outras atividades parecem bem menos atrativas e podem gerar frustração, ansiedade, tristeza ou angústia caso não estejam associadas a uma aposta.
Pensamento de que controla o jogo: jogadores compulsivos têm a tendência de acreditar que encontraram padrões nos jogos e que sempre poderão recuperar o prejuízo ao apostar mais vezes. Esse é um dos principais motores que os levam até mesmo a pegar empréstimos para “recuperar” o que perderam.
Mentiras e comportamento evasivo: normalmente quem apresenta qualquer padrão de vício, incluindo a ludopatia, nega que tem um problema. Essa pessoa mente sobre a frequência que aposta, evita se aproximar demais das pessoas e fala valores menores do que os que realmente coloca em cada jogo.
Comportamentos de risco: ao ultrapassar o ponto saudável, a compulsão por jogos leva a pessoa a ter um conjunto de comportamentos que prejudicam vários aspectos de sua vida, podendo perder relações importantes, destruir sua reserva financeira, abandonar o emprego, sair da faculdade ou largar um relacionamento amoroso para continuar realizando apostas.
Importância da regulamentação e o risco dos jogos de apostas
Atualmente as casas de apostas, especialmente as de jogos de azar, atuam fora do Brasil e usam uma brecha na lei para não precisarem lidar com impostos, legislações regionais e responder judicialmente por possíveis danos causados ou pagamentos devidos.
Além disso, a propaganda delas não precisa seguir as restrições impostas pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), o que as deixa livres para prometerem ganhos milionários, mesmo que isso seja uma mentira.
Outro ponto importante da falta de regulamentação é que o algoritmo por trás do jogo funciona sem controle algum. Então, em teoria, algumas empresas de bet podem fazer você ganhar e perder da forma como quiser, e se souberem usar bem a psicologia podem gerar vícios intencionalmente.
Os riscos dos jogos de aposta são grandes demais para que seja permitida a circulação deles sem nenhuma restrição. A regulação aqui deveria girar em torno de algo semelhante ao que é feito com o álcool e o tabaco:
- restrição de idade e obrigatoriedade de verificação de identidade para “consumo”;
- transparência sobre como o jogo funciona e como é distribuído;
- propaganda mostrando danos que podem ser causados;
- proibição de propaganda com promessas falsas;
- desvinculação de uma vida de luxo e sucesso relacionada aos jogos;
- direcionamento do imposto coletado para campanhas de conscientização e tratamento de jogadores compulsivos.
Todas essas medidas já são aplicadas a itens que podem ser nocivos para a saúde da população, incluindo o álcool e o tabaco como citei. Esses avisos não impediriam as pessoas de jogar, mas dariam a elas mais consciência sobre o risco que correm ao fazer uso do serviço e como se precaver.
Essas medidas foram muito eficientes no que tange ao consumo de cigarros no país, levando o Brasil de uma prevalência de 15,7% em 2006 para 9,10% em 2021.
Qual é a hora de procurar tratamento para vício em apostas esportivas?
Vícios não são coisas que acontecem do dia para a noite. Pelo contrário: no início é só algo gostoso que fazemos. Depois é algo que usamos para relaxar, então se torna algo que recorremos para aliviar as pressões do dia a dia, e pouco a pouco vamos aumentando sua presença na nossa vida.
Por isso pode ser bem difícil perceber que um vício está se instaurando na vida de alguém. E aqui temos um fator determinante para o tratamento: quanto antes a pessoa recorre a ajuda de um psicólogo, mais eficaz e curto é o processo de recuperação.
Então, eu colocaria três marcadores de alerta muito importantes:
- tentar parar de jogar e não conseguir usando desculpas como “amanhã eu paro, hoje é a última vez” por mais de três vezes;
- mentir para pessoas próximas e confiáveis sobre quanto tem jogado e gastado em apostas;
- usar as apostas como recurso principal para aliviar um estresse ou lidar com coisas rotineiras do dia a dia (como ir ao banheiro ou lavar uma louça).
Qualquer um desses três pontos é um sinalizador grave e importante de que você provavelmente já está na fase 2 ou 3 em relação ao seu controle com os jogos e precisa de ajuda o mais breve possível.
O tratamento da ludopatia é feito com psicólogo. Caso necessário pode ser indicado também o acompanhamento psiquiátrico para que seja introduzida alguma medicação para atuar como coadjuvante na mudança comportamental.
A psicoterapia para vício em apostas esportivas e jogos de azar atua em três pilares: [1] aumento das fontes de satisfação e laços sociais, [2] regulação emocional e [3] estratégias de controle inibitório para reduzir o acesso aos jogos.
Em outras palavras: ludopatia, vício em apostas e vício em jogos de azar tem tratamento. Não é um processo fácil, mas é possível e quem passa por esse desafio merece, sim, contar com uma ajuda profissional adequada.
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