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Que nenhum LGBT permaneça trancado no armário neste Natal

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Olá, meu nome é Fábio Iannini, sou psicólogo clínico, gay e terapeuta afirmativo para pessoas da comunidade LGBT. Estou escrevendo este texto porque o Natal e o Ano Novo vem aí.

Essa é uma época de celebrar e as pessoas se reúnem com seus familiares em momentos de confraternização. É exatamente nesse período do ano que alguns LGBT’s estão mais vulneráveis ao preconceito e discriminação.

Por isso aproveito esse período. Agora estamos em um clima natalino e a “aura” de amor, compreensão e solidariedade se fazem presentes nos próximos dias. Esse é o momento para se sensibilizar, visando promover não só uma reflexão, mas quem sabe também uma mudança de comportamento.

Vamos ressignificar as dores e apontar os fatos mais presentes nos rituais familiares e como esses momentos são importantes para nós, LGBT’s. Não podemos, também, deixar de fora a saúde de todas as pessoas envolvidas, sejam elas gays, lésbicas, bissexuais, transsexuais, travestis ou assexuadas; todos fazem parte da família e a saúde familiar depende de uma boa coexistência.

RITUAIS FAMILIARES E VIVÊNCIA LGBT+

É natal — daqui a pouco chega o ano novo —, a família está toda reunida no sofá da sala ou em volta da mesa de jantar. Entre o peru de natal, a playlist nem sempre incluindo as divas pop, fogos de artifício e a cidra Cereser, existe a ovelha colorida da família, cheia do “highlight” não é mesmo?

Pois é, tenho lá minhas vivências de rituais familiares — pois é, sua família não é a única. Então, um pouco do que vou falar aqui eu já senti na pele em que habito. Sem mais delongas, vamos direto ao assunto.

Os rituais familiares são momentos importantes em que a família se reúne. Várias pessoas você só encontra no natal e no ano novo. Todo ano elas estão lá. Isso significa que esse é o momento de fortalecer laços e rever parentes. Tudo isso favorece a intimidade, fortalece os vínculos e o sentimento de pertencimento ao grupo familiar.

Entretanto a vivência LGBT nesses momentos — rituais familiares — pode ser cruel, tendo efeitos disruptivos, quando a família é ambiente de exclusão e desvalorização.

Piadinhas desrespeitosas!

— No armário tem poeira, eu tenho rinite e no Natal ela piora

Esses rituais familiares podem ter um efeito de suporte emocional, favorecendo o sentimento de pertencimento, mas se tratando de vivência LGBT isso, infelizmente, acontece pouco ou raramente.

Sabe aquela perguntinha da sua tia “ – E aí, fulano e as namoradinhas?”. Pois é, essa é a pergunta mais tradicional das festas das famílias tradicionais brasileiras, não é mesmo?

Além disso, somam se piadinhas desrespeitosas, olhares dúbios, cochichos, e uma série de atitudes que podem nos deixar sem graça, envergonhados e nos fazem sentir que não pertencemos àquele ambiente. Esse é o início de um hostil natal e um hostil ano novo.

Como isso acontece?

Desde atos mais “simbólicos” a manifestações públicas de desrespeito, homofobia e exclusão de LGBT’s dos rituais familiares. Muitos LGBT’s são coagidos a se comportar de uma outra maneira nestas ocasiões. Isto é, se auto controlar para não deixar transparecer o seu verdadeiro eu para os demais parentes, o que compromete seu bem-estar, autoestima e saúde emocional.

Quando namoram a situação pode ficar ainda mais complicada. Imagine, por exemplo, que o parceiro dessa pessoa não é bem recebido pela família. Ou pior: a pessoa leva o parceiro para a festa da família, mas tentam passar uma imagem de “amigos”, sem trocar afeto em momento algum. Podem até estar fisicamente presentes, mas como amigos sem nenhuma troca de afeto.

Além disso, existem casos em que o ente LGBT nem é convidado para as comemorações como se não pertencesse à família — e em alguns casos ele realmente deixa de pertencer por não ser aceito —, já alguns LGBT’s são convidados, mas não vão por estarem fartos das experiências negativas anteriores.

Não deixe que tais eventos se tornem momentos de solidão, exclusão e dor para seus familiares LGBT’s. Isso pode levar essas datas a terem pouco ou nenhum significado para essas pessoas, tornando-se, assim, tristes lembranças, favorecendo o distanciamento emocional e o sentimento de não pertencimento ao núcleo familiar.

— É muito triste quando as celebrações de fim de ano se tornam oportunidades de exclusão. Uma identidade jamais deveria ser negociada, e sim aceita, acolhida e respeitada em sua completude e complexidade!

POR ISSO FAÇAMOS VALER O VERDADEIRO ESPÍRITO DE NATAL

Você, familiar de pessoas LGBT’s, sabe que no fundo o seu conflito não é com a orientação sexual, identidade ou expressão de gênero do seu ente LGBT, mas com suas convicções, crenças, valores e expectativas. Apesar disso, tudo bem aceitar “coisas” diferentes pode ser difícil para você, mas essas questões podem ser trabalhadas de forma a reduzir o sofrimento emocional e melhorar o relacionamento familiar.

A psicoterapia pode te ajudar nesse processo, mas sabe também o que pode ajudar você e o seu ente LGBT? Ter um natal em família, isento de exclusão e bullying homofóbico.

A inclusão, sem receios e panos quentes, pode significar uma redução da homofobia, ou seja, das atitudes preconceituosas e negativas em relação aos LGBT’s e seu universo. Essa mudança é boa para ambas as partes. Sim, isso mesmo, tanto para os sentimentos negativos de inadequação, tristeza e não pertencimento que seu ente LGBT pode ter, como para você, mãe ou pai, compreender o seu filho, desenvolver a empatia e aceitação genuína.

— Evitar a realidade não ajuda e não é nada saudável, embora seja a estratégia mais adotada pelos familiares de pessoas LGBT’s.

A VOCÊ LGBT!

Essa é uma época estressante para você. Eu sei disso. Entretanto, não adianta apenas depender das outras pessoas para que a situação melhore, não é mesmo?

Então, que tal usar algumas estratégias para fazer com que esse período do final do ano seja mais proveitoso para você? A seguir mostrarei algumas estratégias que você pode usar para tornar esta época menos estressante. Confira!

Seja assertivo

Primeiramente: seja assertivo! Ser assertivo é se posicionar quando algo o desagrada, é expressar claramente isso, impor seus limites e deixar bem claro os seus direitos, mas é também saber evitar quando necessário.

A questão é saber avaliar qual o menor dano para você, por exemplo: Responder à perguntinha da tia “- Cadê a namorada?” com: “não é namorada tia, é o namorado e ele está ali, deixa eu te apresentar”, ou então não dizer nada, fazer a egípcia, virar as costas e ir pegar uma tacinha de cidra Cereser.

Sua grande dúvida é: qual é a melhor escolha a ser feita naquele momento? Mas, cuidado. Não confunda assertividade com grosseria, ein? O objetivo é deixar as coisas melhores, não piores.

Fique com seu grupo

Outra estratégia que você pode usar é procurar sua turma. Eu tenho a minha por aqui. É bem provável que você tenha, também, alguém por aí com quem você tem mais intimidade e se sente mais à vontade. Junte-se a estas pessoas — ninguém deveria ser obrigado a ficar perto de quem não gosta da sua presença!

E no mais ainda existem outras opções.

Lembre-se, você não é obrigado a nada. Então, não se force a permanecer em ambientes que não te fazem bem, mas também não se isole e fique curtindo a sua bad vibes.

Nós, LGBT’s, conhecemos bem aquele ditado que diz o seguinte: LGBT’s podem escolher suas famílias, essa é uma boa estratégia, se preciso for peça ajuda, pergunte amigos se pode passar o natal e o ano novo ao lado deles. Se rodeie de pessoas que te façam bem, curta com elas, celebre também.

— Quando o afeto e aceitação não se fazem presentes em casa é difícil faz sofrer, mas lembre-se você não está sozinho. Se não tem em casa busque fora dela, amigos são pra essas coisas.

Existem também organizações que promovem ceias de natal para pessoas LGBT’s. Um bom exemplo é a  Transenem, daqui de Belo Horizonte.

Se tiver interesse em participar ou contribuir de alguma forma entre contato pela página deles no facebook clicando aqui

Lembre-se: uma família preconceituosa não é uma família saudável. Aceita que dói menos, dói menos em você e no seu ente LGBT.

Seja autêntico, seja feliz

Para finalizar, deixo aqui um poema que gosto muito e se encaixa perfeitamente na proposta deste texto, seja para você, familiar, ou pessoa LGBT+.

O que vale é ser autêntico e agir conforme a própria consciência e valores pessoais. Nada adianta ser aceito aos olhos do mundo se a atitude não corresponde à verdadeira essência. Viver em uma farsa pessoal é catastrófico, individualmente e coletivamente falando. Quando se tem chance de ser você mesmo, tudo passa a se encaixar e o mecanismo da vida funciona com mais eficiência. Viver com autenticidade é o meio mais eficaz para se alcançar a felicidade. O preconceito é o caminho mais irracional e destrutivo. A sociedade já deveria entender que o respeito e a aceitação da diversidade de comportamentos otimiza e acelera um futuro mais digno e humano para todo mundo, independente de que lado se está.

Elisa Bartlett

Desejo a todos um Natal Feliz, diverso, respeitoso e um Ano Novo repleto de coisas que você valoriza! Fica aqui o meu abraço, em 2019 nos encontramos novamente com vários textos novos.

Ah, como sempre, preciso fazer meu pedido para você. Se gostou deste texto, compartilhe com seus amigos e familiares.

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