Ícone do site AmbientePsi

Você tem medo de se relacionar? Entenda por que isso acontece

Medo de se relacionar

Medo de intimidade, ou medo de relacionamento, é o nome que damos para um constante desconforto em aprofundar relacionamentos interpessoais, sejam eles amorosos ou não. Isso envolve a incapacidade de compartilhar crenças, pensamentos, sentimentos, sexualidade ou experiências.

Esse medo é uma das principais forças que sabota nossos relacionamentos e nos impede de construir relações verdadeiramente significativas e valiosas. E o pior: quem tem medo de intimidade não necessariamente quer ficar sozinho, mas seu comportamento afasta as pessoas e tende a levá-lo à solidão.

Vamos entender um pouco melhor sobre como isso acontece, quais os sintomas e o que você precisa ter atenção ao notar seu medo de intimidade?

Entendendo o medo de relacionamentos

“Estou começando a gostar dele. Ficamos mais íntimos na última semana. Acho que confio nele, começamos a falar sobre coisas mais profundas e significativas… chegou a hora de terminar!”

O medo de intimidade não surge “magicamente” em nossa vida. Ele é fruto de um longo processo de aprendizado que muitas vezes acontece desde a nossa infância.

Para cada pessoa, o grau de desconforto em relação à intimidade varia bastante. Normalmente esse processo de medo e afastamento pode ter um incômodo específico ou atingir vários aspectos do compartilhamento de esferas da nossa vida.

Os níveis de intimidade que normalmente podem ser afetados são:

Talvez você não se identifique com todas essas questões. No consultório já atendi pacientes que apresentavam dificuldade apenas em um ou dois padrões de intimidade — emocional e intelectual, por exemplo.

O foco aqui é: quanto mais nos aproximamos de alguém, maior é a demanda por graus mais profundos de conexão, seja compartilhando crenças, ideias, experiências ou qualquer outra coisa.

Isso é natural em relações amorosas ou de amizade. Sentar em uma mesa e “papear” com os amigos é exatamente isso, assim como ter momentos a sós com um parceiro romântico.

Quando alguém tem medo de intimidade, situações como essas podem despertar algum grau de ansiedade. O que leva a pessoa a evitar o aprofundamento e, em alguns casos, se afastar ao perceber que está íntima demais de alguém.

Isso é especialmente comum em relacionamentos amorosos, mas estou citando também relações de amizade porque também podem ser afetadas, mesmo que não tão frequentemente.

Faz sentido ter medo de intimidade?

A intimidade é uma faca de dois gumes, não sei se você já teve a oportunidade de reparar nisso. Com ela conseguimos confiar em alguém, conhecemos a pessoa, entendemos como ela age e podemos ser “nós mesmos” na frente dela.

Por outro lado, essa mesma intimidade é uma “fraqueza”. Quando estamos em nossa zona de conforto, ou seja, com quem gostamos e com a guarda baixa, ficamos vulneráveis e mais expostos — e isso não é negativo. Vulnerabilidade é uma parte importante da conexão emocional, mas ela assusta.

Assusta especialmente pessoas que tiveram experiências negativas relacionadas a isso no passado, principalmente durante a infância e adolescência. Para essas pessoas, “abaixar o escudo” não é uma tarefa fácil, e às vezes parece até impossível.

Qual a lógica do medo de relacionamentos?

Um estranho qualquer, caminhando pela rua, poderia lançar ofensas a você e não te causar nenhum sentimento negativo, até mesmo pelo fato de ele não te conhecer, muito menos imaginar o que realmente lhe atingiria.

Já uma pessoa próxima, íntima, um amigo ou parceiro de confiança, tem conhecimento suficiente para, com poucas palavras, te levar do céu ao inferno. E o fato de ter a noção de que essa possibilidade existe pode ser um dos gatilhos para nos fecharmos em nós mesmos, criando uma “proteção”.

Isso significa que quando temos intimidade com alguém, também estamos nos expondo. Conhecemos outra pessoa, gostamos dela, ficamos confortáveis em sua companhia, mas ela pode usar isso, essa confiança, para o que quiser — e nem todo mundo é bom.

Origens do medo de relacionamentos

Como falei algumas vezes, e reforçarei por mais algumas: o medo de intimidade não nasce conosco, ele é A-P-R-E-N-D-I-D-O.

Ao longo da nossa vida existem vários pontos críticos de aprendizado. Se você já passou dos 30 deve entender quando eu digo que antes era “mais fácil aprender as coisas”, certo? Isso é um fenômeno natural e acontece com todos os seres humanos.

Pense na nossa vida como uma xícara de café. Enquanto ela está vazia é fácil enchê-la, mas quanto mais perto do borda chegamos, mais cuidado temos que ter para não entornar tudo.

Nosso processo de aquisição de conhecimentos e comportamentos é mais intenso no início da vida, já que ainda estamos em “formação” — somos como uma xícara vazia. À medida que envelhecemos continuamos aprendendo, mas agora fazendo um malabarismo para confrontar os novos aprendizados com os aprendizados passados — e às vezes eles não se conversam e podem até ser contraditórios.

Por isso, alguns cenários e experiências aumentam a probabilidade de desenvolvermos algum grau de medo de intimidade e, consequentemente, o medo de relacionamentos ao chegarmos na vida adulta.

Famílias muito “coladas”

Quando vemos famílias que sempre estão juntas, temos a tendência a olhar para a cena e pensar que aquilo é amor. Contudo, o excesso de proximidade dificulta o entendimento sobre os limites de cada pessoa, gerando problemas de apego, dependência e intimidade.

A noção sobre nossos papéis ou delimitações a respeito da nossa própria intimidade ficam “bagunçadas” em ambientes assim. Essa proximidade excessiva da família pode dificultar o contato com outras pessoas e prejudicar o aprendizado que teríamos na relação interpessoal com amigos, colegas e relacionamentos amorosos.

Perda de um ou ambos os pais

Os pais tendem a ser a relação mais próxima que temos no início de nossas vidas. A perda de algum deles, seja por morte, prisão ou divórcio gera, mesmo que em menor nível, algum sentimento de abandono.

Esse sentimento pode se estender pela vida adulta, aumentando a dificuldade dessa pessoa entrar em novas relações em função do receio de um novo abandono.

Em alguns casos essa vivência pode levar a ansiedade nas relações românticas, fazendo com que a pessoa, enquanto está em um relacionamento, se sinta constantemente tensa com receio de uma nova perda.

Negligência emocional

Para conseguir compartilhar nossas experiências mais íntimas, como sentimentos profundos, precisamos entender que eles são valiosos e merecem essa atenção. Isso significa que antes devemos passar por um processo de aprendizado que nos ensinará isso.

Quando em nossa infância e adolescência somos negligenciados, talvez sendo criados por pais emocionalmente ausentes, desenvolvemos a noção de que não devemos confiar essas emoções a ninguém e o ideal é guardá-las para nós mesmos.

Negligência generalizada

Crianças que crescem em ambientes desestruturados e sem a devida atenção se encontram em uma situação de negligência, sendo forçadas a desenvolver autonomia plena muito cedo na vida.

Como consequência, na vida adulta essas pessoas experimentam uma grande dificuldade de confiar em outras e assumem o cuidado com a própria vida de forma integral, sem compartilhar seus desafios diários ou aceitar ajuda.

Pais com transtornos mentais

Pais e cuidadores com transtornos mentais específicos, e sem tratamento adequado, também prejudicam o aprendizado sobre troca de intimidade. Um exemplo disso é o Transtorno de Personalidade Narcisista.

Para lidar com esse familiar a criança precisa aprender a se adaptar à forma como ele age. O problema é que essas estratégias de enfrentamento tendem a não ser adequadas em relacionamentos futuros.

Pais que abusam de substâncias

Pessoas que passam por algum quadro clínico de abuso de substâncias, como o alcoolismo, normalmente sofrem também com uma negligência generalizada. Uma criança nesse ambiente pode não receber o devido cuidado e se sentir perdida quanto a como agir diante das mudanças bruscas de comportamento, o que gerará consequências na vida adulta.

Adoecimento dos pais

O adoecimento dos pais é outra situação traumática na vida de uma criança. Nesses contextos ela aprende a “se virar” sozinha, já que não pode dar trabalho e nem contar com a companhia dessas pessoas que estão adoentadas.

Esse cenário fica ainda mais intenso quando é a criança quem precisa cuidar dos pais ou dos irmãos mais novos. Ela pode desenvolver um senso não só de independência, mas uma incapacidade de confiar e permitir que outras pessoas se aproximem.

Abuso sexual ou físico

Seja por violência direta (socos, chutes etc.) ou violência sexual, crianças que passam por situações de abuso se fecham para o mundo. É uma forma de se protegerem do dano físico e emocional. Como consequência, a dificuldade de confiar em alguém é acentuada.

Esse item é especialmente mais grave para o desenvolvimento da criança se:

  1. a pessoa que comete os abusos é algum familiar próximo, especialmente pai e mãe;
  2. se a criança não é acolhida quando conta sobre o abuso sofrido e é obrigada a conviver com o abusador.

Abuso verbal

Ao ser submetido a um constante abuso verbal na infância, como em famílias nas quais os pais chamam seus filhos de “burros”, “inúteis”, “incompetentes”, a criança cresce com o constante medo de ser ridicularizada ao compartilhar qualquer coisa com outras pessoas.

O receio de compartilhar vulnerabilidades em um relacionamento futuro pode ter origem em uma infância como essa.

Principais sinais do medo de intimidade

O medo de se relacionar se apresenta de forma diferente para cada pessoa. Para alguns será um fechamento emocional, para outros o compartilhamento de memórias ou a capacidade de receber e dar toques físicos.

Apesar dessa pluralidade de desfechos, alguns comportamentos e situações podem ligar o alerta em nossa mente para nos atentarmos de que talvez sejamos nós a pessoa com medo de intimidade.

Perfeccionismo

Ao não se enxergar como alguém que merece amor, a pessoa tende a acreditar que antes de buscar um relacionamento ela deve se tornar alguém digna de receber tal afeto.

Assim, pessoas com esse perfil tendem a afastar as outras por não acreditarem estarem prontas para algo. Elas ignoram os sinais dados por possíveis parceiros e atribuem ao “mal entendido” qualquer interpretação que leve-as a pensar que uma pessoa possa gostar delas.

Dificuldade ao expressar desejos

Não se sentindo merecedoras de receber apoio, suporte ou companhia, pessoas com medo de se relacionar sofrem com uma falta de habilidade de expressar seus desejos e vontades. É como se elas não pudessem fazer isso porque geraria alguma consequência negativa.

Uma vez que seus parceiros não conseguem ler sua mente para adivinhar que vontades não estão sendo satisfeitas, é como se houvesse uma confirmação de que não merecem apoio. Do ponto de vista da pessoa com medo de intimidade, o parceiro está sendo negligente e ela própria não entende sua parcela de culpa nesse processo.

A longo prazo isso gera problemas de comunicação e confiança no relacionamento, além de uma constante insegurança.

Medo de compromisso e vários primeiros encontros

Na maioria dos casos a pessoa com medo de intimidade é completamente apta a interagir com outras, como em primeiros encontros. Contudo, à medida que o compromisso aumenta e a entrega se faz mais necessária, essa pessoa pode buscar motivos para encerrar a relação e se afastar.

Assim, em vez de criar laços profundos, melhorar a intimidade e construir uma relação de confiança e amor, essas atitudes a levam para relacionamentos superficiais e rápidos.

Evitação ou busca constante de contato físico

Dependendo dos impactos dos aprendizados da infância na vida adulta, a pessoa com medo de se relacionar pode ir para pontos extremos com relação ao contato físico: desde evitá-lo completamente até ter uma necessidade constante de toque como forma de validação.

Sabotagem de relacionamentos

Frente a presença iminente de um relacionamento mais profundo, quem sofre com o medo de intimidade pode começar a agir de formas estranhas, como se quisesse acabar com a relação. Essas atitudes podem envolver:

O mito da liberdade e o medo de se relacionar

Além do receio de ter experiências negativas ao começar a se relacionar com alguém, a incerteza sobre o que acontece com a própria liberdade é outro ponto de atenção quando falamos do medo de se relacionar.

Enquanto somos solteiros, ou estamos “ficando” e “conhecendo alguém”, a liberdade faz parte da rotina. Beijamos quem queremos, vamos para onde temos vontade, passamos o tempo de acordo com nossas escolhas — exceto com relação à obrigações, como faculdade e trabalho.

Acreditar que essa liberdade é “perdida” ao começar um relacionamento é uma ilusão. Em primeiro lugar, nossa vida é definida por nossas decisões: se trabalhamos, renunciamos a oito a dez horas do nosso dia, por exemplo. Isso também não seria uma falta de liberdade?

A rotina de qualquer pessoa é determinada pelas escolhas. Ao escolher A, deixamos de fazer B. Quando escolhemos trabalhar, continuando na mesma linha do exemplo anterior, optamos por trocar algumas horas do nosso dia, que poderíamos fazer qualquer outra coisa, para realizar aquela atividade remunerada.

— “Ah! Mas se eu não trabalhar eu não tenho dinheiro”.

É verdade, você precisa do dinheiro, e sem trabalho isso é praticamente impossível de conseguir. Contudo, ainda assim é uma escolha: entre ficar sem dinheiro e trabalhar, preferimos trabalhar. Nem todo mundo faz essa mesma escolha, mas a grande maioria das pessoas faz.

O que isso tem a ver com relacionamentos?

O que estou tentando mostrar é que a liberdade, essa que pensamos que nos permite fazer qualquer coisa, não existe do jeito que pensamos. Ou melhor: ela existe o tempo todo.

Calma, não é tão confuso assim. Temos a liberdade. Somos livres para escolher e decidir o que queremos, inclusive para aceitar, ou não, determinados acordos sociais. Você pode firmar um acordo monogâmico com alguém, restringindo sua prática sexual só com aquela pessoa, ou, se preferir, pode não ter esse compromisso.

É uma questão de escolha. Essa escolha, da mesma forma que qualquer outra escolha que fazemos ao longo da nossa vida, exige renúncia. Quando escolhemos algo, deixamos diversas outras alternativas de fora.

Se decidimos comprar um carro, escolhemos, em simultâneo, não usar aquele dinheiro para financiar uma casa, comprar uma tv ou viajar. A mesma lógica vale para o relacionamento.

Ao firmar um acordo monogâmico com outra pessoa, você escolhe ficar com seu parceiro em detrimento de outras oportunidades afetivas e sexuais.

Logo, estar em um relacionamento não reduz sua liberdade. Pelo contrário: você escolhe aceitar um tipo de relação que te impede — na teoria, é claro —  de fazer algumas coisas, como ter encontros românticos com outras pessoas. Mas isso, no final das contas, não é o mesmo que comprar um carro e depois não poder viajar porque escolhemos A, não B?

Relacionamentos não têm relação com a perda de liberdade. Nossa liberdade está até mesmo na escolha que fazemos de renunciar a algo para conseguir outra coisa.

Existe cura para o medo de se relacionar?

O medo de se relacionar, assim como qualquer outro medo, tem uma causa e uma solução. Sempre é importante lembrar que para todos os seres vivos, incluindo a nós, humanos, o medo é uma estratégia evolutiva que nos protege de diversos perigos.

Imagine que nossos ancestrais estivessem no meio da floresta, avistassem uma onça e, em vez de correrem com medo, ou tentar atacar o animal, se aproximassem curiosamente para vê-la mais de perto. A morte seria certa e nossa espécie não teria chegado até o atual ponto da evolução.

O tempo passa, o conhecimento aumenta, hoje sabemos o que é uma onça, mas os perigos sociais são outros: assaltos, perda financeira, insegurança fiscal e, como não poderia deixar de ser, o coração partido.

Ao viver em sociedade, como fazemos, temos que lidar com novos medos. Se a intimidade machuca, se somos ensinados desde os primeiros anos de vida a tomarmos cuidado com outras pessoas, a não confiar, a não nos entregar, a nos virarmos sozinhos, nada mais justo que temer um novo relacionamento.

O tratamento profissional para o medo de intimidade

O medo de se relacionar é aprendido como qualquer outro, e da mesma forma pode ser desaprendido. Contudo, dependendo do grau de experiências negativas em seu passado, talvez essa mudança só aconteça com ajuda profissional de um psicólogo.

Durante a psicoterapia você poderá ressignificar experiências passadas, interpretando elas de outra forma e dando sentidos novos para seus comportamentos atuais. Isso abre um leque de possibilidades e nos tira a sensação de que “sou assim”, deixando claro que “estou dessa maneira” em função da história de vida que tivemos.

Além disso, o rapport (a relação estabelecida) com o psicoterapeuta é um dos primeiros laços de confiança que você poderá criar em sua vida. Se abrir para alguém, mesmo que para um profissional, ajuda a desenvolver a sua habilidade de ter mais intimidade com outro humano e cria repertório para reproduzir esse comportamento em outras relações.

Existem vantagens em fazer isso dessa forma. Em primeiro lugar, o psicólogo segue um código de ética bastante rígido e claro, sendo obrigado por lei a manter o sigilo de tudo dito durante as consultas. Somado a isso, a base do trabalho de nós, psicólogos, é o não julgamento: você não será julgado pelo que diz, pensa ou sente.

Sem contar que o psicólogo é munido de uma série de recursos e técnicas que te ajudam a lidar com o desconforto desse processo enquanto aproveita os benefícios de se relacionar com outras pessoas.

E agora, o que fazer com essas informações?

Existem dois caminhos para seguir aqui. O primeiro, mais árduo, é se jogar para as experiências. Apenas tente se abrir, experimentar, lute contra o impulso de fugir da intimidade e busque novas experiências. São essas experiências de intimidade que vão treinar seu comportamento e preparar você para um relacionamento.

Vão haver momentos de incerteza, medo e dor. É comum sentir-se acuada e não existe mal algum em fugir uma vez ou outra. Mas esse é o caminho.

A segunda alternativa não é fácil também, mas permite que você tenha um auxílio, uma orientação. Estou falando da psicoterapia com um psicólogo que entenda sobre o medo de se relacionar

Com essa ajuda profissional você também treinará seu comportamento, mas com menos riscos e com um direcionamento melhor. O profissional vai te ajudar a perceber coisas que talvez levariam anos para serem percebidas sozinhas. Ele fará apontamentos, te ajudará a tomar decisões e conduzirá seu tratamento para que você sofra o mínimo possível enquanto alcança seus objetivos.

Se essa segunda opção te agrada, vou propor uma coisa. Clique aqui, chame no WhatsApp e tire suas dúvidas sobre o serviço de psicoterapia online que ofereço, e quem sabe marque sua primeira consulta.

Sair da versão mobile